Ao quinto disco, Linda Martini a ser "Linda Martini"

Andei a ouvir este "Linda Martini" nos últimos tempos pela manhã, no caminho para o trabalho, e a verdade é que contém a dose certa de energia que às vezes tanto precisamos.

Começa logo com "gravidade", qual shot de cafeína. Confesso que, nas primeiras escutas, não me encheu logo as medidas, da mesma forma que "ratos", do incrível "Turbo Lento" de 2013, custou a entrar. Mas é daqueles que se vai entranhando, e aqueles acordes que antecedem a mudança de ritmo são qualquer coisa... e como não podia deixar de ser, ao vivo, é um tema explosivo.


"Caretano" e "Boca de Sal" são definitivamente mais a minha cara, os acordes, o ritmo, as palavras. e se na primeira, não pude deixar de pensar nos Ornatos Violeta, na segunda, são os Arcade Fire e o seu "Everything Now" que me vêm à cabeça.
Esquisito? Nem por isso... A culpa é do verso «quero tudo ao mesmo tempo» - reflexos condicionados, talvez... E de repente, tudo muda, como se fosse outra canção. Entra o baixo de Cláudia Guerreiro, logo acompanhado pela bateria de Hélio Morais, criando a cadência certa para as guitarras de André Henriques e de Pedro Geraldes brilharem.


Em "É Só Uma Canção", ouve-se uma guitarra mais funky, a puxar pela bossa nova, mas a poesia do texto remete-me novamente para os Ornatos Violeta - uma constante ao longo do disco, aliás.

«é só uma canção, não serve de oração...»


"Domingo Desportivo" e "Semi Tédio dos Prazeres" soam tão intensas como a "Volta" de "Turbo Lento" ou "O Dia Em Que A Música Morreu" de "Sirumba". E em "Cor de Osso", influenciada por tudo o que aconteceu por cá no último ano, balança-se entre o conformismo e a revolta, tal como em "Quase Se Fez Uma Casa", talvez aquela em que a voz do André mexe mais cá dentro...


"Se Me Agiganto" vai crescendo a cada escuta. Inicialmente, foi um fado composto para Ana Moura e, talvez por isso, tenha um tom (ainda) mais «depressivo», um som mais downtempo. Mas é claramente um fecho perfeito para o disco.


Sim, também há fado nos Linda Martini.
E funk, e sons do mundo e dos discos anteriores. Apesar disso, ou por isso mesmo, soa sempre a Linda Martini.
Este, é mais imediato, menos «polido» que "Sirumba", mais cru, se quiserem. Mas é impossível de não gostar. Percebemos logo que é deles, os Linda Martini de sempre.
O som é inconfundível (mesmo quando se aventuram em improvisos instrumentais, como em "Amares Volta", a faixa extra), e não queremos que mude nunca.

Nota Final: ao vivo, estes temas soam ainda melhor. naquela noite de Fevereiro no Lux, a intensidade esteve em máximos (im)possíveis. Mas é sempre assim. já perdi a conta aos concertos a que assisti e se há coisa que nunca falha é a entrega, a energia, a cumplicidade. Os Linda Martini dão tudo e é sempre uma experiência incrível vê-los em palco.

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