"L'Oiseleur", ou uma ode à poesia pelos Feu! Chatterton

A poesia encontrou o seu lugar no rock francês.
Foi isto que me apeteceu escrever ao ouvir os Feu! Chatterton.
Descobri-os na Les Inrocks há algum tempo. e já nessa altura, com um EP e um primeiro disco  "Ici Le Jout (a tout enseveli)" muito bem recebido, foram reconhecidos pela forma como escrevem canções, e sobretudo pela forma como usam a palavra.

É esse o fio condutor de "L'Oiseleur", é a palavra que liga as canções, os diversos estilos musicais do disco, que se passeia pela electrónica, pelo rock, pela chanson française e pelo hip hop, pela música clássica e pelo jazz.

A voz de Arthur Teboul é outro elemento importantíssimo, dando um toque quase teatral e dramático a "L'Oiseleur". É uma voz quente, envolvente, fascinante e sedutora. Quer seja ao leme da explosiva e maravilhosa "Grace", ou da reconfortante "Souvenir", do rap minimalista de "L'Ivresse" ou da cenográfica "Ginger".

"Tes Yeux Verts" transbordam de emoção, e a poesia da mexida "Zone Libre" é (ainda mais) sublime. "Erussel Baled (Les ruines)" é um dos pontos mais altos deste disco, calma, tranquila e intensa, contrastando com a electro pop e os sintetizadores de "Anna". 

"Sari d'Orcino" é mais rústica, como se a chanson française tivesse sido reiventada no rock dos Feu! Chatterton, que também tem espaço para um lado mais experimental, próximo do krautrock em "La Fenêtre", com os teclados em pano de fundo. A fechar, uma longa metragem. "Le Départ" muda constantemente de direcção e de ritmo ao longo de oito minutos, mas mantém sempre o foco na palavra.

"L'Oiseleur" está recheado de melodias intensas, complexas, pouco ou nada instantâneas. É um disco para desvendar a cada escuta, pleno de romantismo lírico, onde o amor, a nostalgia, a resignação e a esperança se encontram.

Nas palavras dos Feu! Chatterton, há que «aceitar que as coisas acontecem, acabam. Como as vivemos, valeram a pena, e viverão em nós para sempre, são boas memórias. Mas outras coisas virão.»

Que venham mais canções assim.