O tio, o duque e o chefe... ou o regresso dos Born Ruffians

É do Canadá que nos chega Uncle, Duke and the Chief, o quinto álbum dos Born Ruffians, um álbum muito simpático de indie rock levezinho e cheio de boas intenções. 
O álbum começa com “Forget Me”, num tom acústico, com uma guitarra que acompanha a voz saliente de Luke Lalonde e que marca a entrada de uma forma descomprometida e brilhante. “Forget Me” é uma musica antagónica ao seu título quase até ao fim, com um som que nos leva ao surf-rock dos anos 50, que brilha mais nas palavras e na intensidade da própria voz do que em qualquer outra coisa. 

Uncle, Duke and The Chief é um álbum divertido e um tanto levezinho, bem conseguido e inspirado, que não sai muito do mesmo registo do inicio ao fim. Destacam-se nele a voz e a urgência com que Luke Lalonde debita o que canta, e as próprias letras das musicas. 
Para mim, as melhores musicas do álbum são “Miss You” e “Side Tracked”. A primeira lembra-me a forma dos Black Lips, mas sempre menos intenso. Ou mais suave, vá. 


“Miss You” tem um som intenso e coeso, onde os instrumentos brilham em uníssono com a voz e fazem tudo parecer mais bonito. É uma musica rock sem artifícios, sem mais nada a inventar e sem coisas de maior, que entra em uníssono com as letras que são fenomenais e falam de sentimentos e formas de sentir. 


“Side Tracked”, com a sua grande linha de baixo, tem muitas influencias dos Velvet Underground e é muito mais intimista e mais lenta, com a ajuda dos coros que ajudam a tirar a musica de uma potencial unidimensionalidade. 


As letras do álbum são fascinantes e um tanto non-sense, especialmente se não soubermos que são musicas sobre a saudade e perda, claramente (e assumidamente) inspiradas na morte de Bowie. 




Podia destacar todas as musicas do álbum por todos os pormenores que os Born Ruffians nos cantam nas suas histórias, desde “Love Too Soon” com a sua toada mais em surf-rock (ou “Tricky”), “Ring That Bell” com as suas harmonia vocais, ou “Spread So Thin”, mais lenta e com um ritmo mais marcado ainda assim. 


Ao quinto álbum, parece-me a mim que os Born Ruffians tem muito pouco a provar. 
Uncle, Duke and The Chief é um álbum limpo, com melodias simples e descomplexadas e com a voz de Luke Lalonde a brilhar mais do que qualquer outra coisa. 



2018 é o ano em que surgem álbuns cujos interpretes dizem ser baseados na morte de David Bowie. Nada que a mim me espante dada a dimensão da perda. Se Bowie nos ensinou tantas coisas, acho que posso ressalvar uma que a mim me parece aqui muito pertinente: podemos ser nós mesmos sem medo, se o assumirmos e se formos reais.
Os Born Ruffians são isso mesmo, especialmente neste álbum, e é exactamente isso que encontramos ao longo das músicas todas. E, mais do que qualquer outra coisa, e o álbum torna-se assim muito mais interessante, exactamente por isso. 


"...someday, a white light, will come for you, to comfort you..." em Forget Me.

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