O sexto capítulo dos The National

Não é segredo para ninguém que gosto muito dos The National. Não acompanhei a carreira desde o início, mas também não foi com "Fake Empire" que me conquistaram. A descoberta da discografia dos The National aconteceu por causa de outra pessoa. Que quis partilhar comigo algo com que se identificava.

Não foi díficil deixar-me envolver. Pela música, mas sobretudo, e parafraseando a chavininha, porque desde logo tive "problemas" com a voz de Matt Berninger (como acontece aliás com a de Tom Smith dos Editors). Há qualquer coisa de reconfortante na voz grave de Berninger, que nos acalma, que nos apazigua. Mesmo que as letras das suas canções falem de receios, de desamores, de dificuldades nos relacionamentos. Mesmo que, após cinco discos, ainda não tenham encontrado paz de espírito.




O novo álbum não foge muito à regra. O rock dos primeiros discos deu lugar às melodias envolventes e canções intimistas de "High Violet", e "Trouble Will Find Me" é quase como uma continuação, mas mais maduro. É também mais pessoal, mais emocional. Um álbum cheio de canções épicas, uma orquestração exímia, uma voz de "apoio" suave (de Sharon Van Etten) que tornam os temas ainda mais arrepiantes, letras que mexem connosco.

Se em "I Should Live In Salt" e em "Demons", não conseguimos expurgar os nossos receios, em "Don't Swallow The Cap", somos invadidos pelo nosso instinto mais protetor - I have only two emotions, careful fear and dead devotion. "Sea Of Love", um dos temas maiores do disco, aparece como a nossa consciência quando Berninger canta "If I stay here, trouble will find me / if I stay here, I'll never leave".





E vamos sendo "engolidos" por um sentimento demasiado forte em "Heavenfaced" e "This Is The Last Time" - but your love is such a swamp - até nos perdermos no encanto subtil de "Graceless" e de "Slipped", uma das canções que mais me impressiona. Porque num ou noutro momento da nossa vida, nos identificamos com ela - but I'll never be anything you ever want me to be.

Emoções à flor da pele, o conforto chega com "I Need My Girl", e "Pink Rabbits", que ao início até pode passar algo despercebida, vai crescendo a cada escuta, ganhando um lugar especial entre as preferidas. Uma balada, a revelar a delicadeza da voz de Matt e a sua vulnerabilidade quando entoa "you didn't see me I was falling apart / I was a television version of a person with a broken heart".






Para muitos, os The National podem ser uma banda aborrecida, o tom de voz de Matt Berninger pode não ser do seu agrado. Mas para muitos outros, como eu, há um arrepio que corre pela espinha quando a escutamos. Há uma força que nos prende a cada palavra, a cada nota, a cada acorde e nos dá alento para lidarmos com as nossas fraquezas, com as nossas inseguranças.


Neste disco, e tal como já (se) sentira em "High Violet", os The National falam dos seus medos, de relações, de experiências, dos seus momentos mais marcantes. Contam as suas histórias, que podiam ser as nossas. Já não são a banda de culto de outrora, são muito mais do que isso. São a nossa voz.


I'll be a friend and a fuck-up and everything
But I'll never be anything you ever want me to be

(The National, em "Slipped")

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