Viagem ao mundo da música com os Daft Punk

Esqueço tudo o que ouvi sobre o novo álbum dos Daft Punk. Tudo o que li, tudo o que sei., para não correr o risco de pensar "que desilusão". 

Sei que é melhor assim. O entusiasmo era muito, "Get Lucky" andou a picar-nos durante semanas e quando finalmente apareceu, foi como uma bomba. Mas em bom, muito bom, até. E os restantes temas de "Random Access Memories" seguem pelo mesmo caminho. Diferente, é certo, um blast from the past, mas a essência dos Daft Punk continua lá.

"Give Life Back To Music" dá início ao disco, com Nile Rodgers na guitarra a liderar uma melodia funky, seguindo-se "The Game Of Love", despida de artifícios instrumentais, baterias, teclas, baixo no seu estado mais clean, mais puro.





"Giorgio by Moroder" é a homenagem ao homem dos sintetizadores, o guru, se quisermos.  E fazendo jus à regra de evitar o uso de samples, temo-lo em discurso directo. Um monólogo do próprio que serve de guia ao tema mais criativo deste álbum. O resultado é de génio, o casamento perfeito entre os instrumentos mais tradicionais e os mais modernos. As teclas, as cordas, os sintetizadores, provando que a harmonia é possível.

"Within" marca a transição de tom no disco. É uma balada com Chilly Gonzales ao piano, perfeita para nos acompanhar na procura da essência de cada um. Já "Instant Crush" - com a voz inconfundível de Julian Casablancas, dá um toque mais orgânico à música electrónica, tal é a alma que transparece da sua interpretação.





"Lose Yourself To Dance" traz-nos a primeira entrada em cena de Pharell Williams, aqui em registo falsete. Um tema fantástico, com uma bateria sempre presente, que desde logo se tornou num dos meus preferidos.

"Touch", criada por Paul Williams, é talvez o tema que mais apela às nossas memórias. É um misto de melodias, uma jornada alucinante por estilos, por filmes, por sons, por épocas. E aquele final à musical da Broadway, por mais estranho que pareça, acaba por fazer todo o sentido.

"Get Lucky", claramente uma das jóias da coroa, é pop, acessível, dançável e cantável, que nos põe logo a mexer involuntariamente, sem que isso lhe tire o mérito. Pharell Williams está irrepreensível na sua interpretação - sim, eu gosto muito do senhor Pharell - e esta versão, mais longa, é mais intensa.






Seguem-se "Beyond" uma espécie de imagem de marca dos Daft Punk, e "Motherboard", o instrumental pleno, com uma orquestração intensa e futurista. "Fragments of Time", com Todd Williams, é a que melhor nos faz lembrar as canções dos anos 70.

"Doin' It Right" apresenta-se como a mais electrónica por não utilizar instrumentos tradicionais, e conta com a colaboração de Noah Lennox, aka Panda Bear e membro dos Animal Collective. Um tema em que a sua personalidade musical está tão presente que quase poderia ser um tema com a participação dos Daft Punk e não ao contrário.





"Contact", a última canção, foi produzida juntamente com DJ Falcon e utiliza a gravação da Apollo 17, a última missão na Lua. O que não é nada inocente. Permite-nos contextualizar a explosão de sons e de emoções do tema, como se o seu crescendo simbolizasse o arranque do foguetão até ao momento da descolagem. Preparando-nos para o fim.

"Random Access Memories" não tem nada a ver com "Discovery", por muitos considerado uma obra prima. É uma viagem no tempo. Ao nosso tempo e ao tempo da música, do disco sound, do motown, da pop. Dos sintetizadores que deram fama aos Daft Punk. De como tudo seria inaudível se não fossem as raízes da música.


If you do it right, letting go all night
Shadows on you break out into the light

(Daft Punk & Panda Bear, em "Doin' It Right")

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