Prince ou a magia do rock n' roll: ao vivo no Coliseu

17 de Agosto, Coliseu dos Recreios. Sala cheia para receber Prince, num concerto surpresa em Lisboa (e sem recorrer à indústria, o que explica o preço dos bilhetes). E diz-se que simbólico também, porque a primeira passagem por Portugal ocorreu a 15 de Agosto de 1993...

Cerca de 50 minutos depois da hora marcada, as três meninas que compõem as 3rdEyeGirl anunciam o início da festa. E pedem-nos para não nos escondermos por detrás da tecnologia - uma referência clara a Prince e à sua aversão a fotografias e vídeos no youtube - e para aproveitarmos o concerto ao máximo.


Hannah Ford - baterista, Ida Nielsen - baixista, e Donna Grantis - guitarrista, marcam o passo para o que seria uma noite explosiva. E vemos finalmente Prince, com um look super afro (escusado será dizer que de imediato, as imagens dos personagens de Madagáscar 3 irromperam na minha mente... :) )

(Re)Conhecido pela sua faceta funk, a noite é de rock n' roll. Durante as duas horas e meia de concerto, os músicos - todos eles, sem excepção - fazem vibrar o público, enquanto se divertem em palco.

E se normalmente achamos que a única forma de isso acontecer é recorrendo aos clássicos - e sucessos - num concerto de Prince percebemos que tal não é necessário. É um daqueles artistas que dispensa apresentações, que já não precisa de fazer render as canções ou a (longa) carreira. Temos o privilégio de assistir a um dos seus concertos e isso é mais do que suficiente. 

"Let's Go Crazy", "Fixurlifeup", "Screwdriver" e "Guitar" são alguns dos temas que fazem da primeira parte do concerto uma verdadeira jam session explosiva, com as guitarras de Prince e Donna Grantis a apresentarem-se como estrelas maiores - sem nunca se anularem, a fazer lembrar a espaços o grande Jimi Hendrix. E nestes momentos se percebe que não é mentira nenhuma quando Prince canta sem medos “I love you baby / but not like I love my guitar”.

Mas nem só de rock se faz a noite. Momentos há em que a guitarra é trocada pelo piano, e aí, num palco a média ou baixa luz, a costela funk, jazzy, soul reaparece para delírio do público que responde sempre entusiasta a todas as solicitações de Prince. 

Num registo bastante simpático, empático e comunicativo, sempre a puxar pelo público, e a reiterar o amor pela nossa pátria, Prince faz a festa ao longo de uma hora, com as 3rdEyeGirl a fazerem o público vibrar com riffs poderosíssimos de guitarra e baixo e uma actuação competente da baterista - que potência em palco!

As palavras de despedida acordam-nos do êxtase. E se o concerto terminasse naquele momento, acredito que, apesar de felizes - porque um concerto de Prince é sempre um concerto de Prince - muitos sairiam algo frustrados. Porque queremos sempre ouvir os temas mais mediáticos. E o artista não desilude.

O primeiro encore faz-se com "Diamonds & Pearls" e a explosão imediata do público. A despedida não nos convence, e no segundo encore, minutos depois, com os músicos a pedirem que a festa se faça no recinto, o delírio com o riff de "When Doves Cry" - simplesmente um dos melhores temas de sempre dos anos 80. E aqui dá-se provavelmente o momento em que sinto as emoções à flor da pele. Aquele momento que define o "nosso" concerto. Foi este. A interpretação de "When Doves Cry". Se até então o concerto não tivesse sido brutal, só por causa daqueles minutos já teria valido a pena. E mal sabia eu o que ainda estava para vir...

Segue-se um medley de clássicos: "Sign O' Times", "Hot Thing" - que leva Prince a convidar um grupo de espectadores a invadir o palco, "Alphabet Street" e "Time". Nova despedida, e o público a bater o pé e as palmas, e os assobios para chamar de novo ao palco o herói da noite.

Estamos no terceiro encore e ninguém parece querer arredar pé. Nem o público nem o artista e o seu entourage. "I Could Never Take The Place Of Your Man", "Wild Thing" e "U Got the Look" levam a assistência ao rubro mais uma vez. E quando todos julgavam que o concerto tinha terminado - o que levou muita gente a abandonar o recinto - Prince e as 3rdEyeGirl regressam para mais um encore, provavelmente o ponto mais alto do concerto.

"Nothing Compares 2 U" - imortalizado na voz de Sinead O'connor, é de facto um original de Prince e a sua interpretação ao piano deixa o público emocionado e diria até arrepiado - eu pelo menos fiquei... E a exaltação é ainda maior quando se ouvem os primeiros acordes de "Purple Rain", um dos seus temas maiores. E sem dúvida a melhor forma de terminar um concerto quase irrepreensível que fica para a história...

"This is your party now", repetiu Prince incansavelmente ao longo da noite. E eu confirmo, foi mesmo.


"we love your city, we love your queen, Ana Moura" (Prince)

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