A electro-soul de SOHN
Antes de mais, quero que fique claro que gosto muito, mas muito do James Blake. Que qualquer coisa que lhe soe parecido vai ser sempre "só mais um" e que "Overgrown" ainda roda cá em casa, incessantemente, quase um ano depois de ver a luz do dia.
Dei com o trabalho de SOHN enquanto produtor de temas de BANKS e de KWABS, e mal sabia eu que o moço já andava por aí com álbum em nome próprio.
É um inglês radicado (ou será refugiado?) em Viena que faz cenas electro-soul. Tal e qual, o Blake. E, claro, é impossível não nos lembrarmos dele, quando ouvimos "Tremors", o disco de estreia.
As composições de SOHN são downtempo, nem sempre calmas, mas quase de total melancolia, os agudos são impressionantes, e o ritmo é envolvente.
A escuridão confunde-se com a «joie de vivre» por entre teclados, sintetizadores, cenas da electrónica, guitarras. Tudo se mistura e tudo flui em volta de uma voz meio cristalina, meio angelical. Frágil, dócil até, e crua também, quando é preciso - ainda assim, não me soa tão suave quanto a de James Blake.
"Tempest" é agitação pura, e as guitarras de "The Wheel" dão-lhe outro encanto. "Artifice", por seu lado, é catchy o suficiente para me parecer o seu lado mais pop - atenção, que eu até lhe acho graça, e "Bloodflows" é emotiva e surpreende no fim.
Com uma orquestração mais simples, "Ransom Notes" dá maior destaque à voz de SOHN, enquanto que "Paralysed" nos prende com a melodia em piano. desde o primeiro acorde. e depois, a voz de sohn, trágica qb.
Como em "Fool", apesar da linha instrumental ser mais agressiva. "Lights" é perfeita para a pista de dança. em modo "after hours", pelo menos na versão de disco - que na sessão 4AD, a coisa soou bem mais simpática aos meus ouvidos.
"Veto" é quente e soa a banda sonora chill out em tardes de verão ou inícios de noite. Tem soul mas não muito, e falta-lhe força para ser mais marcante.
E depois há "Lessons", viciante. Colou assim que a ouvi. O crescendo instrumental, a voz que vai ganhando espaço, e o momento electrónico final. A entrada das vozes, dos coros, do apoio vocal. Impressionante.
Para o fim, fica "Tremors", o tema título. A canção que me conquistou. A voz, o ritmo, a entrada dos sintetizadores, tudo é «flawless». E resume em 3'30'' o trabalho de SOHN de forma perfeita.
"Tremors", o disco, puxa-nos para um novo registo soul, coberto pela electrónica. É um álbum solitário, negro, e talvez por isso seja também melancólico. E é intenso o suficiente para não nos passar ao lado.
«Somebody better let me know my name // Before I give myself away // Somebody better show me how I feel // Cause I know I'm not at the wheel» (SOHN em "Artifice")
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