Reportagem: Belém Art Fest, à noite nos museus

Aconteceu no fim-de-semana passado. Quatro museus em Belém abriram as suas portas fora de horas para acolher o Belém Art Fest. Entre workshops, exposições, apresentações e concertos, o evento deu vida a uma zona que, à noite, não tem assim tanto para oferecer.

Confesso que o que me chamou ao evento foram os concertos, claro. Mais ainda, a curiosidade de ver como seriam, em locais emblemáticos da cidade. Dias depois, estou convencida que é algo que deveria acontecer mais vezes. De todos, o Museu Berardo foi o que menos me impressionou - acredito que seja o mais adequado para a "festa", mas fiquei encantada com os restantes. O Museu dos Coches - sinceramente, acho que não precisamos de outro -, o Museu de Arqueologia e o Mosteiro dos Jerónimos. São espaços impressionantes e que criam um ambiente fantástico para estas coisas.

Mas vamos lá então ao que interessa.

Dia 1:

Primeira paragem no Museu dos Coches para assistir aos jovens solistas da Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML). 

"String Quartet in D minor" de Schubert e de Haydn. 
A acústica da sala é fantástica, o som ecoa perfeito, apesar da chuva que se faz sentir lá fora.


créditos: concertina

Gosto muito dos rapazes e raparigas da OML; por não se apresentarem tão formais, parecem-me sempre mais genuínos a tocar. São mais interessantes, mais entusiasmantes. 
Não é novidade nenhuma, já tinha sentido isso quando vi a OML actuar no Festival ao LargoSem desprimor para os elementos das restantes orquestras.

Seguimos para o Museu Nacional de Arqueologia debaixo de chuva intensa - só mesmo eu para me meter nestas coisas com um tempo destes. e pior, arrastar amigos comigo

Meio encharcados, e depois de uma breve passagem pela exposição - as pedras não são muito a minha cena - o tão esperado concerto de Noiserv. 
Emocionante. 



[querem saber mais? Leiam a review em ao vivo: noiserv @ belém art fest]


Ao mesmo tempo, estava a decorrer no Mosteiro dos Jerónimos, o concerto de Rita Redshoes. 

Não deu para ver nem uns minutos - estas coisas dos horários sobrepostos são uma chatice - mas teria sido interessante assistir a um concerto pop/rock nos claustros.

Apesar do cansaço, ainda demos um pulo ao Museu Berardo para a actuação de Thomas Anahory, mas não ficámos por lá muito tempo. 

Os nossos ouvidos vinham com o embalo do Noiserv e não aguentaram o rock do moço. 
(e mais uma vez ficou provado que, comigo, o rock barulhento, salvo poucas excepções, não cola.)


Dia 2:

Não estava muito entusiasmada, não tinha ideia do que queria ver à excepção do concerto de Walter Benjamin. 

Ainda assim, e como tínhamos de picar o ponto nos Jerónimos, fomos ver a apresentação de Beatriz Pessoa, jovem do jazz da escola do Hot Clube de Portugal e da Escola Superior de Música de Lisboa. 


créditos: concertina

Não foi mau. 
O local, como já disse, é fantástico e envolvente (não sei bem como terá sido no dia anterior, com a chuva torrencial que se fez sentir...), a miúda tem uma voz impressionante, e a sua interpretação é sentida, percebe-se que vem de dentro. 

MAS a cover de "Diamonds" da Rihanna soou esquisita. A parte do refrão não encaixou nos meus ouvidos - sim, ela grita e grita bem, afinadinha, mas comigo não colou.


Chegámos mesmo a tempo ao Museu de Arqueologia para Walter Benjamin. 
Uns minutos no varandim do museu, está uma noite agradável, a zona de Belém é de facto belíssima... 
O concerto foi muito bom (leiam a review completa em ao vivo: walter benjamin @ belém art fest), perante uma sala composta e os últimos versos - «we might never fall in love but you can kiss me anyway...» - ecoam enquanto esperamos pelo próximo concerto.





A nossa noite terminou ao som dos Cais Sodré Funk Connection. 
Numa palavra: brutal. 
Músicos veteranos do panorama nacional, que metem inveja de tão bons que são. 
Uma energia fantástica, uma cumplicidade irrepreensível, músicos brilhantes, vozes fabulosas. 
O ar cool de Fernando Nobre, aka Silk (em jeito de "tom jones meets ray charles meets james brown") e o power de Tamin deixaram a plateia ao rubro, a dançar, a mexer, a acompanhar as coreografias.

créditos: concertina

Momentos de boa disposição e boas energias. 
Soltaram o soul e o funk que há em cada um de nós vagueando entre covers e originais. 
O palco é pequeno para tanto talento junto, e, isto é um facto, fiquei rendida. É bom saber que por cá também há bandas assim. 
Mal posso esperar por voltar a vê-los. (no Musicbox, ou noutro sítio qualquer.)


nota final: infelizmente, nem tudo foi bom. 
A sobreposição de horários, os atrasos na programação, as filas para entrar que chateiam qualquer um... 
(Bem sei que a intempérie da madrugada provocou danos. Mas mesmo assim...)
Ou a falta de espaços de alimentação, como se fosse fácil encontrar cenas de jeito nas imediações (sim, as pessoas tem que comer...). 
Só bebidas não chega. 
Falo por mim, a cerveja não me alimenta. 
Muito menos o whisky, ou o vinho por melhor que ele seja. 
E ter uma banca de mini-sandes não me parece grande alternativa.
mas pior que tudo isso, os burburinhos, as conversas mais soltas durante os concertos... tão, mas tão irritantes.

É aborrecido, mas parece que há gente que não sabe estar nestas coisas. E não, não foi só aqui.

Ainda assim, espero que para o ano haja mais. E melhor.

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