Sábado à noite com a "família" Azáfama

12 de Abril de 2014.

Mais um fim-de-semana rumo a Lisboa, porque a Concertina me convenceu a aparecer na festa da "Família" Azáfama.
(E mesmo em fim-de-semana de Coachella, pareceu-me muito bem.)

Coube-me desta vez a mim escrever algumas coisas sobre o evento, ainda que eu ache que os relatos do que se vive em determinado sítio a determinada hora sejam sempre parcos e muito pessoais e não traduzem nada do que realmente aconteceu.
(e como nestas coisas eu sempre fui ensinada a pedir ajuda quando sei que me vou esquecer de pormenores, e como não gosto quando as coisas não ficam bem contadas, será um texto a quatro mãos, que é para não faltar nada.)

Há um ano atrás, nenhuma de nós esteve presente; era por isso algo que esperávamos com alguma ansiedade, de tanto termos ouvido falar no assunto. Conclusão: expectativas em alta para um grande espectáculo, boa música e muitas colaborações.

Com muitas coisas que queríamos ver como iam ser, e cheias de curiosidade em relação a outras, lá fomos nós ao Teatro do Bairro. E ainda bem.


Créditos: Concertina

Começo por dizer que Festa que é Festa tem que ter os seus contratempos. Senão parece que nem corre tudo bem.
E esta não foi excepção.
A festa começou atrasada.


Era suposto ter começado às 23:30, mas a essa hora ainda estava tudo cá fora. O atraso de meia hora, por motivos alheios à organização, provocou nervos e desmobilizou gente, e talvez por isso, diz a organização, tenha estado menos gente que no ano passado. Mas os que resistiram, como nós, não se devem ter arrependido.
E isto é importante?
Ora bem, não fosse o facto de não ter havido battle de Dj's no fim não seria, mas dado que a gerência levou os sapatos de dançar (até porque somos raparigas "dançadeiras"), então a resposta à pergunta é «sim, o tempo que estivemos lá fora à espera fez falta no fim»

Mas falemos antes no resto.

A festa começou com João Gil no palco com o seu Vitorino Voador. Infelizmente não nos apercebemos logo da sua actuação. Muita gente estava ainda dispersa e outro tanto na conversa. Pareceu-me que só se deram conta, pelo menos os que estavam no andar de cima (como nós), que algo se passava no palco quando João Gil (um belíssimo mestre de cerimónias que nos foi situando durante todo o espectáculo, que participou sempre com toda a gente, e ajudou a criar todos os melhores momentos da noite) falou e apresentou o mais recente membro da família, Cachupa Psicadélica.


Cachupa Psicadélica, por Concertina

Que é, para mim, um nome a reter, e a ouvir, e re-ouvir e, reafirmo, para fazer repeat.
Nada melhor para entrar nesta noite de festa do que ouvir uma simbiose perfeita entre a musica ritmada e quente de Cabo Verde e um tom de voz que nos leva ao grunge, naquilo que de mais despojado ele pode ter. E que óptima forma entrar no espírito da festa, digo eu, que sou garantidamente fã destes sons.

João Gil voltou ao palco, desta vez acompanhado por alguns dos colegas dos YCWCB para a interpretação de um dos meus temas favoritos: "from her soothing mouth" - que tem como base um tema instrumental de sua autoria - "os velhinhos", regressando depois a Vitorino Voador com um tema novo que pôs toda a gente a entoar «quem não precisa de afeto?» (e que bem que isto nos soou...)

João Gil, aka Vitorino Voador com YCWCB, por Concertina

Entretanto, e depois de um curtinho intervalo onde dançámos ao som de "Neighbourhood #2" dos Arcade Fire, sobe ao palco o projecto de J.P. Mendes, Capitão Capitão, num tom muito mais rock do que estamos habituadas, e em versão banda, para tocar 3 musicas, entre as quais "Memórias Curtas" e "O Grande Mentiroso".
E confesso que fiquei com pena que não tivesse havido "momento Folhas" mas pronto, as actuações tinham de ser curtas que senão também não daria tempo para toda a gente... 


Trêsporcento com Capitão Capitão, por Concertina

E foi com Capitão Capitão que começámos a ouvir os Trêsporcento.
Como?
Não, não estamos baralhadas.
J.P Mendes fez uma versão de "O dia em que esses olhos brilharam" dos Trêsporcento, antes dos próprios terem subido ao palco. E foi também ele que, na ausência de Tiago Esteves, cantou "Veludo". Mas calma, que antes disso houve mais música(s).
(passo por isso a palavra à Concertina, que ela consegue sempre falar melhor sobre eles)

"Cidade" foi dedicada ao Tiago que, como todos já devem saber, está em Sydney. A banda contou com a voz de fadista de Rodrigo Rebelo de Andrade, que apesar de não ter soado mal, não me pareceu a mais enquadrada com o tema. Seguiram-se "Veludo", com JP Mendes - até ficou engraçada! - e "Cascatas", com David Jacinto dos TV Rural completamente alucinante - ora bem, eu não sou fã dos TV Rural, não combinam comigo. Mas achei a actuação intensa e mais próxima do espírito da coisa. Para o fim, "Quero que sejas minha", assumida sem medos pelo baixista, Salvador Carvalho, na voz e Pedro Pedro nos backing vocals - não desprezando o esforço dos moços, tenho de admitir que senti falta da voz do Tiago....



Chegou então o momento dos TV Rural (mais uma estreia para a equipa Phonograph Me), que nos levaram a um universo complexo de rock e pop. Onde nos salta à vista a atitude marcante de David Jacinto, frontman excêntrico e que marca a diferença nas suas actuações, como já o tinha feito quando colaborou com os Trêsporcento (e, ou foi impressão minha, ou aproveitou para alterar um bocadinho a letra de "Cascatas"...). Imparável, e parafraseando o Pedro Valente, confirma-se, eles são «uns animais de palco».

É com este espírito (ainda) mais descontraído, e com a noite a pouco mais de meio, que chega O Martim, com a boa disposição a que já nos habituou, e que nos pôs de novo a cantarolar. Primeiro com "Tu não és o B Fachada", que eu confesso, é uma das minhas preferidas, passando por "Honda Blues" até acabar com o mítico "Banho Maria", dando depois lugar no palco do Teatro do Bairro a(o controverso) PZ.

O Martim & Amigos, por Concertina

Eu acrescento: por mais vezes que o veja actuar, não me canso, a boa disposição é contagiosa. Com a ajuda de Ana Claudia, Rodrigo Rebelo de Andrade, PZ e Rui Pinto, nos coros e não só, Martim Torres protagonizou um dos momentos altos da noite.



PZ, não sendo um elemento da Azáfama, é como um daqueles "primos" que toda a gente tem, mas que não se sabe bem de onde veio. (Tirando que, neste caso, sim, sabemos de onde veio.). Mais um que não tem muito a ver connosco, mas que para além de ter ajudado na diversidade da festa - e isso é sempre bom, proporcionou muitos momentos de gargalhadas sonoras com "Croquetes", por exemplo, e "Cara de Chewbacca", que era o que toda a gente queria ouvir, a julgar pela excitação que reinava naquela sala.

Depois, foi a vez dos projectos mais electrónicos. Primeiro com uma amostra primorosa do trabalho de TUPÃ CUNUN (que eu confesso que me soube a tão pouco...), uma introdução excelente para a última actuação da noite, que ficou a cargo dos Hombres con Hambre (outro dos projectos de João Gil), que nós já tínhamos tido o prazer de conhecer no Music Box em Janeiro. Dizer o quê sobre eles se palavras não chegam?


Hombres Con Hambre, por Concertina

Partiram tudo. João Gil e os irmãos Vasconcelos Dias deram um espectáculo fabuloso. A prova de que a música instrumental também mexe, e bem, com as pessoas. E os momentos com outros músicos, nomeadamente Cachupa Psicadélica, foram impressionantes. E nós sabemos de fonte segura que eles não se conheciam antes daquele Sábado. Foi totalmente improvisado, uma daquelas coisas boas que têm estes acontecimentos!

Entre agradecimentos, a invasão de palco. E de repente, a bateria ganhou mais força. Já não são só duas mãos. São quatro, são seis, são oito. António Moura dos Trêsporcento (está cada vez mais impressionante este miúdo!), João Correia, João Pinheiro dos TV Rural. E diz que o Zé Castro também. Uma brutalidade. Em bom, em muito bom. A comunhão perfeita.


Fim de festa bombástico, uma verdadeira "azáfama", com toda a gente em cima do palco, músicos e publico, uma união que só acontece quando os amigos se juntam e fica demonstrado o verdadeiro gosto pelo "fazer música". Tanto que ninguém queria que acabasse. Aliás, na realidade ninguém estava a acreditar que era mesmo para acabar.

Mas a música terminou, acenderam-se as luzes. Diz que é hora de acabar a festa, que para o ano há mais. (pelo menos assim o esperamos.) (Ou diz que assim nos prometeram...)


nota final: o melhor de tudo? a interacção entre os artistas. o mais chato? não nos interpretem mal, mas o atraso ao início e o prolongamento no fim retiraram de cena o DJ Set Azáfama vs Diego Armès. E a malta queria muito dançar os clássicos. Portanto, meus caros, ficam a dever-nos um. E dos bons. (E sim, nós somos do departamento que cobra estas coisas. Temos pena.)

AHHHHHHH!!!!! E mais uma coisinha... Nós não somos da família da Azáfama. Mas avisamos já que nestas festas de "família", não nos importamos nada de aparecer.

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.