As Vozes dos Phantogram
Pois é, já tinha falado algures aqui dos Phantogram. O que ainda não tinha dito, acho eu, é que foi mais uma das belíssimas descobertas "patrocinadas" por Mark Ronson, no seu Authentic Shit (uma das poucas coisas que eu ainda ouço na "radio").
Num mundo como o de hoje, em que o acesso a música está cada vez mais democratizado, e onde temos, se quisermos, por dia, acesso a mil coisas, acreditem que é muito difícil fazer com que se me prenda a atenção. E os Phantogram conseguiram.
O duo formado por Josh Carter e Sarah Barthel tem um som de tal forma urbano e novo (carregado de influências antigas, de coisas que eu até gosto muito, confesso...), que fez com que, até que Voices estivesse cá fora, eu não descansasse. E isso é cada vez mais raro.
A "culpa" desta minha fixação com os Phantogram é, então, deste "Fall In Love", que ainda hoje é uma das minhas músicas preferidas do álbum. Não há como não se ficar apaixonado por este som, digo eu. Com beats quase em jeito sinfónico, com uma batida intensa e com uma letra brilhante. Mais? Sim, mais. As pausas da música são suficientemente dramáticas e dão aquela intensidade boa ao som. (Eu costumo dizer que isto é música para ouvir em repeat... mas acontece-me o mesmo com "Celebrating Nothing" ainda que eu ache que esta é uma música mais "para as multidões", com toda a gente de bracinhos no ar e a dançar os demónios todos. Como tem que ser.)
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Outra das minhas músicas preferidas de Voices é "Never Going Home", muito menos límpida na forma do que "Fall in Love", menos grandiosa se quiserem, com um estilo mais urbano, em que a força vem agora das guitarras e não dos sintetizadores, e onde somos embalados pela voz de Josh Carter... "...If This is Love I'm Never Going Home..." de forma delicada e decidida.
Temos a mesma percepção sonora quando ouvimos "Nothing But Trouble" (ainda que aqui com a voz de Sarah Barthel a aparecer de forma hipnotizante e outra vez acompanhada por samplers excelentes) onde nos vemos "teletransportados" para o som dos Massive Attack e para toda aquela onda de Bristol, ainda que em update, porque afinal, estamos em 2014.
Uma das melhores letras de Voices aparece-nos em "The Day You Died", mais em forma rock, ou melhor, com mais guitarras e muito mais imediata do que é "costume" nos Phantogram (e se calhar, depois de pensar, até podemos dizer que é pop...).
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Em "Black Out Days" os samplers tornam tudo mais "street", o que também acontece com "I Don't Blame You", onde somos remetidos para mais uma incursão de "quase-trip-hop" (ainda que, eu tenha que dizer, que sempre que a voz pertence a Josh Carter a coisa fica com um ar mais calmo, por mais inquietante que o resto seja).
E é isto que eu mais gosto nos Phantogram, é que nos podemos imaginar a ouvi-los no Porto, em Lisboa, em Madrid, em Londres, em Nova Iorque ou em Xangai... Porque se encaixam perfeitamente em qualquer sitio onde haja pessoas e movimento, e ritmos e sons.
"Bill Murray" é outro destes momentos, ainda que um bocado mais em "Slow-motion", com mais uma parceria perfeita entre os samplers e a voz de Barthel, num momento quase íntimo e reconfortante, mais do que perfeito para ser ouvido numa viagem de carro ao pôr-do-sol.
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Os ritmos hipnotizantes de "Howling at the Moon", soam-me mais a pop, ou a qualquer coisa mais magnético, sem que nunca se perca a identidade dos Phantogram, mas mais em modo quase chillout. Podemos encontrar os mesmos ritmos hipnotizantes em "My Only Friend", ainda que de forma mais calma e mais "fim de festa".
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Acabamos com "Bad Dreams", onde regressamos ao "quase-trip-hop" nos samplers, mais uma vez guiados pela voz de Sarah Barthel que nos traz calma por cima da inquietação da batida, fazendo, outra vez, a simbiose perfeita entre os dois.
Pois que chegamos assim ao fim de Voices. O segundo álbum dos Phantogram onde é impossível não estar sempre a dizer que os samplers são fenomenais e que a voz de Sarah Barthel é meio mágica.
E se o significado real de Phantogram é aquele efeito que podemos encontrar em algumas fotografias - aquele em que parece que as duas dimensões se transformam em três - eu diria então que Voices, independentemente do sitio em que estamos, ou se está calor ou frio, é a banda sonora perfeita. Aquela banda sonora que nos faz ver tudo em três dimensões, que nos faz ter a percepção mais real das coisas, ou, se calhar, que nos faz ver o mundo noutra dimensão: a da musica boa.
"...And I don't care to say goodbye, 'cause you're feeling nothing, I dug into your heart, we've got nothing at all..." em The Day You Died.
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