Retrato dos Lake Street Dive
Não fazia ideia de quem eram os Lake Street Dive, até "Bad Self Portraits", o novo álbum ter aparecido na nossa pasta partilhada, cortesia da Chavininha, pois claro! :)
Fui pesquisá-los, enquanto ouvia o disco. «two girls, two boys and a whole lotta feeling» é a frase que usam para se apresentar por aí. E nós por cá confirmamos. A voz quente de Rachel Price, a bateria de Mike Calabrese, passando pela guitarra e pelo trompete de Mike Olson e o baixo de Bridget Kearney.
Recheado de canções upbeat que nos transportam muitas vezes para os anos 60, dou por mim quase sempre a bater o pé. Navegam entre o soul, o jazz e o indie pop, mas há sempre um elo comum: a voz de Rachel - quente, rouca, forte, com personalidade.
E é o que se destaca logo em "Bad Self Portraits", o tema de abertura, meio bluesy, meio soul e em "Stop Your Crying", o primeiro momento pop - quase que diria em modo "girls' band" mas em bom - a pedir o acompanhamento com palmas. A bateria, o ritmo, e claro a voz.
"Better Than" é brilhante. Calma, sim, mas cheia de emoção e sentimento na voz. E a ajudar, linhas de baixo sedutoras, e mais, o apontamento do trompete é qualquer coisa!!
Em "Rabid Animal", provavelmente o tema mais catchy do disco, fiquei vidrada no piano, um instrumento outsider. Mas que lhe dá o encanto que se calhar de outra forma não teria. "You go down smooth" é outro dos temas fortes, upbeat por causa do ritmo acelerado, acompanhado pelos instrumentos - e não é assim tão complicado imaginar um coro em modo gospel lá mais para o final da música...
"Use Me Up", e sobretudo a intro, fez-me recordar as canções de Amy Winehouse; "Bobby Tanqueray" não é tão exigente vocalmente mas é uma canção pop/rock em modo sofisticado, outra vez em muito bom. E "Just Ask", com vocals mais arrastados, chama mais ao sentimento, talvez. E é daquelas canções que encaixamos perfeitamente nos bares de New Orleans, em ambiente smokey, a meia luz.
"Seventeen" reflete o lado altruísta de Rachel, que partilha as vozes com o baterista. E não se saem nada mal. Remete-nos de imediato aos duetos dos anos 60, e eu assumo que colei na variação de ritmo, e de instrumentos.
"What About Me" é o tema de estádio. Bonita para se cantar em coro. Se calhar não tanto em estádios - que não me parece nada o estilo deles, mas também já não em bares. "What About Me" puxa pelas palmas, pelos coros afinadinhos em salas de espectáculo de lotação esgotada.
"Rental Love" encerra o disco. Calminha, a puxar pelo sentimento, mas ainda assim sem ser má ou fraca. É quase que obrigatória, como se tivesse sempre de existir um tema meio slow meio romântico - dá para perceber que não somos fãs, não dá? Não tem a energia das restantes canções, mas ainda assim, o poder vocal de Rachel Price arrepia quando se atingem uns agudos mais complicados...
Contas feitas a "Bad Self Portraits", encaro-o como uma companhia permanente nos próximos tempos. Como se fosse um «entremet» - aquilo que nos servem entre pratos para limpar o palato nos restaurantes gourmet. Porquê? Porque com tanta música a surgir de hora a hora, todos os dias, tão complexa e rica, sabe bem ouvir coisas imediatas, cruas, simples.
«I have lived a privileged life, but I have seen my share of strife», em “What About Me”
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