Considerações sobre "Nina Cried Power", o último EP de Hozier
Hoje é dia de falar no EP Nina Cried Power, o ultimo lançamento de Hozier.
Começo por confessar uma coisa algo incómoda: eu não sou fã do Hozier de “Take Me To Church”. E “Take Me To Church” é daquelas musicas que me enjoa só de pensar na quantidade de vezes que me entrou pelas orelhas a dentro, mesmo sem eu querer.
Começo por confessar uma coisa algo incómoda: eu não sou fã do Hozier de “Take Me To Church”. E “Take Me To Church” é daquelas musicas que me enjoa só de pensar na quantidade de vezes que me entrou pelas orelhas a dentro, mesmo sem eu querer.
No entanto, tinha que falar nele porque fui descobrindo, ainda que por acaso, outra dimensão de Hozier que normalmente não sai cá para fora à primeira: a primeira vez que achei isto foi nos Grammys, quando ele tocou "I Put a Spell On You" com Annie Lennox. Mas tive a certeza que havia mais dimensões de Hozier quando ouvi uma versão que ele fez na BBC Radio 2 de “Whole Lotta Love” dos Led Zeppelin. Aí, eu tive a certeza absoluta que Hozier era mais do que “Take Me To Church a passar na radio e em todo o lado 20 vezes por dia” e andava muito longe do enjoativo.
Parece-me que não me enganei muito, dado que, neste EP, ou seja, o próximo passo antes do álbum novo, Hozier aparece interventivo, politico até, voltando-se para as musicas de intervenção, onde luta pelos direitos humanos com a ajuda Mavis Staples, por exemplo, e lembra todos os activistas em “Nina Cried Power” e onde fala do mundo tal como ele é: problemático e nada feliz. E se isto for um bocadinho do que vem no álbum novo, eu vou ouvir de forma muito mais atenta.
A produção do EP é muito robusta e cuidada e a música que lhe dá nome, “Nina Cried Power”, é uma música de intervenção, com uma excelente percussão e uma melodia marcante que se entranha enquanto Hozier nos vai cantando o que se passa no mundo e todos os retrocessos no que diz respeito aos direitos civis (que andam a ser muito mal tratados ao longo dos últimos tempos). Para mim, é uma das melhores musicas do ano, o jeito meio gospel que nos põe a cantar palavras de ordem e que nos faz entrar no espírito da coisa.
Podemos reflectir aqui sobre a importância da musica para podermos tornar o mundo um lugar melhor para viver, o que nos faria a todos muito bem, e só por isso já valia, mas, de facto, "Nina Cried Power” é uma grande musica.
O EP tem muitas variações, apesar das 4 musicas e augura um bom segundo álbum. Vamos a ver se é verdade.
Por outro lado “NFWMB” aparece-nos com outro registo: acustica e densa. “NFWMB” traz uma outra faceta de Hozier que não esta assim tão ligada ao poder e à dimensão da musica que a antecede.
“Moment’s Silence (Common Tongue)” volta ao registo de “Nina Cried Power” e tem um solo de guitarra excepcional que marca o inicio da musica e uma percussão muito poderosa. Rock n’ roll à antiga, longe da linha mais pop do primeiro álbum, mostrando a tal dimensão que me tinha escapado nesse momento.
A musica que fecha o EP, “Shrike” é, de novo, mais acústica e mais contentinha, com uma entrada que demora. Parece-me sempre uma musica irlandesa que nos faz pensar se não será um regresso às raízes sonoras do musico.
Depois disto o que dizer? O Ep de Hozier é um tanto bipolar: tem duas musicas muito boas e duas que são só assim assim, duas partes que não tem nada a ver entre si e que, de uma forma me baralham.
Se, por acaso, o novo álbum, que não deve tardar a vir, aparecer com este alinhamento, podemos esperar por algo melhor que a média, espero eu pelo menos.
O EP Nina Cried Power é uma boa amostra do que Hozier sabe fazer, o que eu mais espero é que o segundo álbum seja mais parecido com este EP do que com aquele primeiro álbum.
Hozier vai estar em Lisboa, no Coliseu, neste próximo dia 11.
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