Silva e o seu (e também nosso) Brasileiro

Descobri Silva quando o ouvi a cantar Marisa Monte, confesso. E, portanto, do antes disso não tenho qualquer autoridade para falar. Posso falar do amor e da admiração que ele me ganhou quando ouvi aquele álbum (de que a Concertina falou aqui…): só alguém com a mesma admiração que eu tenho por ela teria a ousadia de transformar as musicas de Marisa Monte em musicas tão suas, sem lhes tirar um pingo de beleza.
E, foi isto que me fez apaixonar por Silva.


Isso e a sua voz calma e feliz. 

Isso e a tal certeza de que, quem fez o que ele fez a cantar Marisa Monte sabia muito bem o que estava a fazer.



Confesso que, como o disse aqui, tive medo do que poderia vir do concerto do Vodafone Paredes de Coura deste ano. Mas, na verdade, ainda veio algo maior e melhor do que eu algum dia podia ter pensado (e aqui já eu andava a ouvir “A Cor é Rosa" e “Tudo Bem”, dado que este Brasileiro estava quase a sair, mas ainda não tinha chegado aos meus ouvidos…).
Ouvir Silva em Coura foi magico. Não me canso de dizer.




E ouvi-lo, nessa mesma altura, numa entrevista a falar neste Brasileiro, e a dizer que o álbum era um simples voltar a casa, às raizes e à magia de ser Brasileiro, com a tal voz bonita que ele tem, com aquela coolness que é de Silva e de mais ninguém, com o bonito que ele faz a dizer palavras bonitas são uma das mais-valias reais de Brasileiro. Não, Silva não é só MPB. É isso e mais. É juntar Caetano, Gil, Bethania e Gal (e os outros todos) à electronica cuidada. É a magia das palavras. Silva é, para mim, o resumo perfeito do que eu sempre pensei que era o tal “português com açúcar”.

Então, e depois da minha declaração de amor, logo assim feita a “pés-juntos”, vamos olhar para as musicas de Brasileiro, que eu aviso já que vou continuar a fazer desta forma lamechas e apaixonada. Porque contra o amor não há quem ganhe.




Começar Brasileiro com “Nada Será Mais Como Era Antes” é o anuncio de uma mudança, de um mundo novo.
As letras, actuais e, de certa forma, eternas de Silva dão o mote para que se realize o pensamento do que é o Brasil de hoje. E são elas, assim, uma das coisas mais perfeitas deste Brasileiro.
Uma melodia irrepreensível, muito brasileira, meio em beat reggae-samba, onde Silva nos canta, como que num pressagio, tudo o que muda no Brasil nos dias de hoje, “…olha só, é melhor me abraçar que dar tiros…”. A importância de misturar o piano clássico com os beats mais eletrónicos mostram a sofisticação do que se ouve durante o álbum inteiro.






No entanto, a primeira amostra que me chegou deste álbum foi “A Cor é Rosa”, que é uma das minhas canções preferidas do álbum, não só pelo obvio, mas porque tem um ritmo muito marcante e enfeitiçante desde o primeiro beat da percussão.
O refrão é muito bom, e a melodia é muito simples e muito típica, sendo ao mesmo tempo uma musica feliz e muito sofisticada. “A Cor É Rosa” acaba por conseguir fazer um resumo perfeito do álbum: como tornar o complicado simples e como fazer isso tudo de uma forma tão bonita.





Se falei na primeira musica que ouvi de Brasileiro tenho que falar também na ultima que teve direito a video, “Duas da Tarde”, uma canção meio em jeito choro, meio em jeito Samba, deliciosamente feliz e que veio depois das eleições (não vou falar sobre isso porque senão ia haver muito mais a dizer e não temos tempo.)







Uma das canções mais politicamente activas e com mais critica social é “Caju”, que é também das mais eletrónicas, ainda que, tendo sempre presente a guitarra acústica, que casa tão bem com a voz de Silva.

No meio do album aparecem “Sapucaia e “Palmeira”, duas musicas instrumentais, que são aparentemente simples, mas que demonstram a sofisticação de Silva.






“Fica Tudo Bem”, de que ja tinha falado lá em cima é um dos momentos mais fofinhos e bonitos de Brasileiro, com a ajuda preciosa de Anitta, a diva do funk que traz um lado ainda mais sereno e terno à musica. A mim transmite-me sempre paz, não sei se por me lembrar daquele fim de concerto/inicio de noite em Coura, se por ser só assim tão do bem.





Mas, para mim, será impossível falar em Brasileiro sem falar em “Ela Voa”, um dos momentos mais eletrónicos e mais bonitos do álbum é, desde a primeira vez que ouvi Brasileiro, a minha musica preferida.
É mais densa na forma e mais conceptual e mais sofisticada, até na própria melodia. A letra é das mais perfeitas de Brasileiro e os seus 4 minutos e tal contam uma historia tão bonita que toda a gente que sente, de uma forma ou de outra, acaba por se identificar. “… ‘tá na chuva pra se molhar e na vida pra se perder, é preciso saber mirar o coração, o coração. Quem me dera saber voar, ir com ela para o Japão, é preciso aproveitar o tempo bom. Quem tentar entender o amor, corre o risco de enlouquecer, o amor não tem solução é só viver…”



Apesar de ter sido lançado em Maio, Brasileiro tem dentro de si algumas profecias daquilo que acabou por acontecer no Brasil nos últimos meses. Até parece que foi Karma se não quisermos falar em premonições.
No entanto, Brasileiro mostra o que de bom se faz na musica de agora no Brasil, sem nos fazer esquecer de onde vem e sem renegar as suas influencias do passado, recorrendo, isso sim, muitas vezes ao seu passado e às raízes mais profundas para ajudar a vincar a sua identidade.

Brasileiro leva-nos, de facto, ao Brasil, ao de hoje, ao que existe mesmo, sem nos poder levar a mais sitio nenhum, se formos bem justos, se bem que sempre acompanhado com uma sensação de liberdade única e uma sensação única de regresso a casa.
Silva tem o poder de, recorrendo às suas raízes, fazer um álbum moderno mas, mais do que qualquer outra coisa, feliz. Que, se formos bem a ver, era a mesma palavra que eu usaria para descrever Silva.
Então, se calhar, Brasileiro também define Silva (ou vice-versa).

A nós também nos vai fazer felizes dia 21 de Março do próximo ano na Casa da Musica (mas diz que também vai ajudar a fazer muita gente feliz no Capitólio dia 29 do mesmo mês), e só por isso, de certeza que vai ficar tudo bem.

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