A hora azul, ou o último dos Suede

Hoje é dia de falar em The Blue Hour, o último e oitavo álbum dos Suede (sim, aqueles tipos do Britpop). Um álbum que soa a “novo” do inicio ao fim, um “novo” muito romântico e algo “estranho”, mas se formos bem a ver, soa como qualquer álbuns dos Suede deve soar.
The Blue Hour começa com “As One” e com a sua entrada muito dramática, e com uma guitarra muito bem acompanhada por um coro e por instrumentos de corda.



Podemos ver, logo aqui, no inicio que os Suede cresceram, e a voz de Brett Anderson já não é a única coisa que os caracteriza.
A grandiosidade das musicas é inegável e a própria urgência, e a forma como as canções estão construídas, põe a banda num outro patamar. The Blue Hour é um álbum muito cinematográfico, sem que o seu som base se tenha dissipado nunca: já não é só a voz brutal de Brett Anderson, é muito mais do que isso, há sempre uma reinvenção a cada álbum, que faz com que os Suede estejam sempre a fazer “o” novo, o actual.
Cada musica é um universo carregado de emoções. “Beyond The Outskirts” é uma musica com mais percussão, o que nos leva logo aos Suede do inicio, ainda que aqui mais sofisticados, enquanto que, em “The Invisibles”, a entrada é sempre triunfal, e a guitarra acústica acaba por lhe dar uma maior proximidade ao humano, trazendo-nos de volta do sonho que foi a musica anterior.




As entradas das musicas marcam sempre o seu tom, mais ou menos dramático, que conseguimos sempre decifrar nos primeiros acordes, mas que se tornam ainda mais claros quando Brett começa a cantar e a contar a historia. “Chalk Circles”, por exemplo, parece uma musica árabe, imponente e grandiosa, muito por causa da guitarra, da percussão e das cordas.
“Cold Hands” leva-nos ao rock, sem quaisquer duvidas. A urgência das guitarras, a bateria e a forma como, mais uma vez, sempre ele, Brett Anderson conta a historia (e a grita quando é preciso), fazem desta musica uma das obrigatórias do álbum.






O final das musicas não é propriamente um final. Acaba por ser uma ligação à musica que vem depois, tornando The Blue Hour uma som composição composta de fragmentos.
The Blue Hour é um álbum que, (como o dos Arctic Monkeys, por exemplo) vai continuar a soar muito bem daqui a 20 anos. A banda tem 30 anos e soa mais actual do que algumas que estão agora a começar, não só no som como nas letras… e, apesar dos 30 anos de carreira, ('tá bem que, com alguns de pausa) os Suede nunca deixaram de ter coisas para dizer, e, este álbum, é um bom exemplo disso.






Eu adoro a mensagem sempre presente neste álbum, a de que não estamos nunca sozinhos e a de que a vida la fora vale a pena. Mesmo quando parece que não vale "... You're not alone; look up to the sky and be calm, You’re not alone look into the light and be heard, You’re never alone; your life is golden, GoldenYou’re not alone; look up to the sky and be calm, You’re not alone look into the light and be heard, You’re never alone; your life is golden..." em “Life Is Golden”.






A primeira amostra do álbum foi “Don’t Be Afraid If Nobody Loves You”, e é das minhas preferidas. Não só pela intencionalidade e pela forma como Anderson a domina, mas porque me faz chegar mais perto de “Animal Nitrate” ou de “It Starts and Ends With You”, por exemplo. Naquele sitio onde me sinto mais confortável, na verdade, e o sitio onde, vendo bem as coisas podemos encontrar um pedacinho de tudo o que há em The Blue Hour: certeza, intenção, garra e poder. No fundo, tudo o que eu sempre gostei mais nos Suede.






The Blue Hour é um álbum cheio de historias que acaba com uma outra historia, a de “Flytripping”, como não podia deixar de ser. Mas nesta, o que acontece é uma mensagem ainda mais real de humanidade e de realidade que nos faz continuar a sorrir assim que o álbum acaba de tocar.

The Blue Hour é um álbum imponente e muito sensorial, onde a cinematografia da voz de Brett Anderson nos guia pelo meio das harmonias e dos sons. Será talvez o álbum mais completo dos Suede? Isso eu não sei, sei sim, que é um dos mais bonitos, disso eu não tenho duvidas.

Assim que o pus a tocar, The Blue Hour levou-me numa viagem, não só sonora como sensorial, como ja tinha dito, mas numa viagem bonita e cheia de pormenores e memórias. Não só das que eu ja tinha, mas das que ainda se vão criar. É um álbum deliciosamente bonito, mesmo quando a historia é mais feia. No fim fica a certeza de que os Suede estão de volta, de muito boa saúde e que sabem fazer musica boa como poucos, Pelo menos para os meus sentidos.


“… of all the wild places I love, Your’s is the most desolate…” em All The Wild Places.

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