A fórmula ganhadora dos Alt-J

Assim que ouço os Alt-J, penso em sintetizadores, em computadores, em programas informáticos, muito por culpa da voz distorcida (ou será só anasalada?) do vocalista.

O primeiro tema  - "intro" - soa-me tanto a Massive Attack - na era Tricky - que tenho de confirmar que não me enganei no álbum.. é puro trip hop (bom para matar saudades). Mas logo depois, um segundo tema, "interlude" e entramos num mundo caleidoscópico, como se estivéssemos sob o efeito de substâncias proibidas, uma trip cheia de momentos altos e baixos. um som pouco ou nada rotulável e tolerável.

Sinto um desconforto ao ouvir uma voz anasalada. é estranho. Não me puxa no imediato. Mas envolve aos poucos. Como o efeito de uma bebida quente que nos aquece quando faz frio.

"Tessellate" e "Breezeblocks" conquistam-me com a batida trip hip hop, aquela que se ouvia tanto nos anos 90. Que tem um dom de nos acertar o ritmo.




Novo interlúdio instrumental, a anteceder outro caminho, outros estilos. Como se o álbum tivesse sido feito de capítulos, de diferentes estórias e fosse preciso limpar a mente com outros sons para podermos desfrutar em pleno das canções de "An Awesome Wave".

É nesse momento que irrompe "Something Good" que para mim soa a folk - aquele som que não sabemos muito bem como explicar, mas que fica sempre bem, porque banda indie que se preze tem sempre influências de música popular.




"Dissolve me", "Matilda", "ms", "fitzpleasure" voltam a misturar estilos como se o disco fosse uma manta de retalhos, onde o rock, a electrónica, e a pop convivem sem medos.

E de novo, um interlúdio, nova paragem na estória. Tocam os primeiros acordes de "bloodflood", que acompanha a nossa respiração, o bater das asas, as ondas do mar, o ritmo da natureza - imagino perfeitamente este tema a servir de banda sonora para um qualquer vídeo promocional da vida...




E depois, entra "Taro", baseada no que aconteceu a Gerda Taro - uma foto-jornalista da década de 40/50 e ao seu companheiro Robert Capa, durante a Primeira Guerra da Indochina... O epílogo perfeito, com momentos do oriente, em jeito de refrão instrumental - assim que ouvi lembrei-me das cenas de dança nos filmes de Bollywood.




É esta a magia da cena indie. À primeira escuta, não são de fácil digestão, não são consensuais. Porque misturam ritmos, misturam instrumentos, como se de uma cocofonia se tratasse. Porque a voz não é melodiosa. Mas os temas vão ganhando o seu espaço, na sua melhor miscelânea de estilos e de sons.

i have sprayed you into my eyes...

(Alt J, em "Taro")

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