A orquestra mágica de noiserv
Por estes dias, ando viciada em demasiados sons diferentes. Em Tape Junk, nas Haim, no "AM" dos Arctic Monkeys, no "Turbo Lento" dos Linda Martini, regressei a "Overgrown" de James Blake, mas há um que teima em se destacar: Almost Visible Orchestra (AVO) de Noiserv.
Quem nos acompanha, sabe que sou fã do David Santos, tanto a solo como parte integrante dos You Can't Win Charlie Brown. Que o admiro enquanto one man band, sobretudo pela sua capacidade genial de pegar em objectos do dia-a-dia e transformá-los em instrumentos musicais, criando melodias absolutamente harmoniosas.
Já me tinha conquistado com "One Hundred Miles from Thoughtless" (2008) e com o EP "A Day In The Day Of The Days" (2010), mas eu confesso que AVO me deixou (e deixa ainda) emocionada. Os instrumentais são mágicos, por vezes nostálgicos, por vezes arrepiantes, mas sempre envolventes, as letras são simples mas mexem com tudo cá dentro. E depois há aquela canção que nos prende. "Today is the same as yesterday but yesterday is not today" deixou-me curiosa e ansiosa pelo resto mas foi com "I was trying to sleep when everyone woke up" que fiquei completamente rendida. desde a primeira audição.
É a minha preferida, sim, mas os outros 9 temas são também eles grandes momentos. Ao longo de 30 magníficos minutos, Noiserv leva-nos numa viagem interior, introspectiva. A melancolia invade-nos a alma, mas ao invés de tristes, sentimo-nos serenos.
Da crescente intensidade de "This is maybe the place where trains are going to sleep at night" ou de "Don't say hi if you don't have time for a nice goodbye", à emotividade de "It's easy to be a marathoner even if you are a carpenter" ou de "I will try to stop thinking about a way to stop thinking"; da esperança de "I'm not afraid of what I can't do", à nostalgia de "Life is like a fried egg, once perfect everyone wants to destroy it" ou de "It's useless to think about something bad without something good to compare", AVO é um disco pessoal e intimista.
As canções são de David Santos, mas são também um bocadinho nossas. São intensas, são capítulos de uma vida, são histórias iguais às de todos nós. Falam de começos, de recomeços, de construir e desconstruir. De tentar, e tentar novamente e tentar outra vez até conseguirmos o que queremos. ou chegarmos onde queremos. De companhia, de solidão.
São canções que interagem connosco, que nos inspiram, que nos abraçam. Ainda mais quando há dias cinzentos, estados de espírito mais inquietos. É como se o disco (à semelhança de um livro ou de uma pessoa) tivesse entrado na nossa vida quando nós mais precisávamos... E nos (pre)enche a alma.
if you fail in the end, you will try again
(Noiserv, em "this is maybe the place where trains are going to sleep at night")
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