Ao vivo: a noite eletrizante dos Linda Martini
Se me pedirem para descrever numa só palavra o concerto dos Linda Martini (que teve lugar no dia 12, na Sala Tejo - Meo Arena), apenas uma faz sentido: "explosivo".
(e antes de continuar, deixem-me que vos diga que o som estava péssimo. no geral, não diminuiu a qualidade do espectáculo, mas tendo em conta que estávamos num concerto de punk rock, houve momentos em que a coisa não correu assim tão bem e os (meus) tímpanos sofreram um bocadinho.)
Quase duas horas de êxtase total na plateia - na sua maioria jovem, sinal claro que os miúdos de hoje até ouvem boa música - num concerto que, acredito, também é de celebração do caminho percorrido até hoje - já lá vão 10 anos... Ouvem-se os primeiros acordes de "Ninguém Tropeça Nos Dias", esse fabuloso instrumental que dá início a "Turbo Lento". E o primeiro sorriso. O jogo de luzes acompanha o ritmo e o quarteto, em palco, vai-se alinhando, para logo nos presentearem com a adrenalina pura de "Juárez" - um dos temas fortes do disco, muito por culpa da harmonia brutal entre a voz de André Henriques e a bateria de Hélio Morais.
"Panteão" é o tema que se segue, que nos "rouba" as primeiras palmas a compasso das guitarras agressivas e da bateria explosiva. Soa tudo tão bem, que nada parece demasiado forçado ou exagerado mesmo quando os instrumentais se "arrastam"...
Por entre as inúmeras troca de palavras - é tão bom vê-los comunicativos! - regressamos ao passado com a arrepiante "Nós Os Outros", "Juventude Sónica" e "Estuque" a provocar novo entusiasmo por entre as gentes. E se acham que as canções novas não são capazes de ter o mesmo efeito, desenganem-se. A envolvente "Pirâmica", a brilhante "Sapatos Bravos" - um dos meus temas preferidos, e que ao vivo soa ainda mais intenso - e sobretudo "Febril (Tanto Mar) ganham espaço como estrelas maiores do alinhamento.
Chega "Belarmino" - sempre especial, para depois sentirmos o "Tremor Essencial", antes de uma muito aguardada "Ratos", um dos momentos maiores de histeria coletiva, em sintonia com o sentimento revolucionário, e "Aparato" - arrepiante na letra, na música, na voz mais rasgada que nunca.
"Mulher-A-Dias" é recebida com o carinho de sempre, antes de uma "Tamborina Fera" explosiva - "eles estão mesmo mais punk", pensamos nós. De novo, a histeria quando nos apercebemos dos acordes de "100 Metros Sereia", no que foi para mim o momento mais visível de comunhão perfeita entre público e banda. Coro afinadinho, mesmo depois de não mais se ouvirem os instrumentos... Especial, sem dúvida. À semelhança do que acontecera há um ano atrás no concerto dos Ornatos Violeta...
"Volta", perfeita para abraçar as emoções que se viveram pouco antes, anuncia o fim. Mas os Linda Martini não saem do palco porque "não faz sentido" e anunciam mais duas. "E depois adeus".
O encore faz-se ao som das estrondosas "Este Mar" e "O Amor É Não Haver Polícia", que nos levam ao rubro. E pelos vistos, a Hélio Morais também que, no fim, se atira para os braços do público.
Sente-se o entusiasmo naquele compasso de espera... a incerteza do regresso ao palco, a habitual "só mais uma" a plenos pulmões. Resulta, porque os quatro estão de volta, "nós somos muito fáceis, na verdade", diz a baixista. E quando muitos esperavam "Amor Combate" - eu também, confesso - o quarteto oferece-nos the next best thing: uma interpretação magistral de "Dá-me A Tua Melhor Faca", a encerrar uma noite quase perfeita...
E que não deixa margem para dúvidas. O culto dos Linda Martini é - sobretudo ao vivo - um dos melhores do panorama nacional.
«se eu cair dentro de ti como um tropeçar // tem que ser melhor, entrar, mexer, mexer, desarrumar»
(Linda Martini, em "Aparato")
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