O dia seguinte de David Bowie

Começo por dizer que não sou grande fã do senhor David Bowie. Nem sequer domino a discografia, à excepção de umas quantas coisas mais conhecidas, e outras que até gosto. Portanto, é óbvio que se instalou o pânico quando me calhou falar sobre "The Next Day", o disco novo.

Claro que tenho em mente que o senhor é um camaleão. E que muitas das vezes esteve à frente no seu tempo. E que os seus discos são reflexos disso mesmo. E posso já dizer que "The Next Day" é um disco competente e interessante.

Independentemente do conhecimento sobre a carreira de Bowie, e quer sejamos fãs ou não, o lançamento de um disco após anos de silêncio é sempre aguardado com expectativa. Há sempre uma pergunta que nos assombra. Estaremos perante algo de inovador ou algo em jeito de "mais do mesmo"?

"Nem uma coisa nem outra", pensei eu, assim que ouvi o primeiro avanço. Não fiquei muito impressionada com "Where Are We Now" - perdoem-me os fãs, mas esta coisa da melancolia não encaixa na imagem que tenho do senhor.




O tema título, por exemplo, já me soa melhor - guitarras agressivas, ritmo e raiva na voz, com Bowie a cantar «Here I am, not quite dying/My body left to rot in a hollow tree». Tal como "Dirty Boys", que me entusiasmou sobretudo por causa da linha fantástica de saxofone, que acentua o efeito teatral da canção.

Já "The stars are out (tonight)", o segundo single, é talvez a mais envolvente a nível instrumental. Uma harmonia simpática entre cordas, teclas, bateria. E a letra, provavelmente das melhores do disco, é sem dúvida das mais incisivas.




"Love Is Lost", mais pessoal na letra, soa algo funk, a relembrar os anos 70; "Where are we now" é melancolia pura - e para mim, algo aborrecida. "valentine's day", apesar de não ser das minhas favoritas, mostra perfeitamente o lado mais pop de david bowie.

A sequência seguinte não me entusiasma. "if you can see me" soa-me tão estranha, que é a que menos encaixo neste disco. ‘I’d Rather Be High’ é meio psicadélica a fazer jus à letra - e eu não acho piada ao psicadélico. E "Boss Of Me", que de bom, só mesmo a voz irónica representada pelo saxofone...


Mas felizmente há "Dancing Out In Space": com um ritmo catchy, meio motown, meio funk, viciante, quase dançável, uma das melhores do disco. "How Does The Grass Grow" tem uma letra estranha, mas um instrumental que lembra o ritmo rock anos 80. Tal como "(You will) set the world on fire", outro tema interessante, com riffs de guitarra poderosos, de novo o "velho" rock n' roll.





Aproxima-se o fim do alinhamento e depois de descargas de energia, a melancolia. "You Feel So Lonely You Could Die" é algo depressiva, e "Heat" é quase apocalíptica. A deixar-nos inquietos e sem saber o que esperar do próximo trabalho.

Continuo a não ser fã. Mas, considerando que se trata de um disco de David Bowie, não me choca se for o eleito deste ano para o Mercury Prize.


«They burn you with their radiant smiles / Trap you with their beautiful eyes
They're broke and shamed or drunk or scared / But I hope they live forever»

(David Bowie, em "The Stars (Are Out Tonight)"

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