A França de Owlle

Nunca escondi de ninguém a minha tendência para achar que há sítios que, por norma, fazem melhor este ou aquele tipo de música, da mesma forma que nunca escondi que tenho preferências de géneros e editoras musicais. 

E sendo assim, acho que já o disse aqui várias vezes, que acho que os franceses são muito bons no que diz respeito a coisas mais electrónicas, ou mais synthpop. Os Daft Punk, o Woodkid, os Jamaica, os Juvenilles ou os Make The Girl Dance são muito bons exemplos disso. Há pouco tempo acrescentei outro nome a esta lista: Owlle. Que se me entranhou nos ouvidos e que teima em não querer sair daqui. 

Ora bem, que é público que eu tenho muitas dificuldades em ouvir meninas a cantar, acho que também já é. Ainda hoje falava nisso com a menina Concertina. Mas Beth Ditto dos Gossip, Alisson Mosshart dos Kills, Shirley Mason dos Garbage, Coco O. Dos Quadron e, que me lembre assim de repente e rápido MNDR são claras excepções à regra que me quebram esta tendência. Espera. Agora há também Owlle.

(E agora que já justifiquei o porque é que acho essencial falar nela, vamos lá ver o que nos traz "France", o álbum de estreia da miúda.)

France é um álbum pop, muito pop, muito colante, com introduções muito boas e a voz poderosa de Owlle que torna tudo quase um bocado indie, um bocado burlesco (no sentido mais sensual da coisa). Aliás, todo o álbum está recheado de momentos muito bons ao nível das harmonias vocais, de refrães muito cantáveis, e de ritmos. Ritmos que saem da caixa de sons digital é um facto, e que são acentuados pela capacidade vocal delico-doce de quem os canta, sempre ela, Owlle.

Tudo isto esta presente em "Fog", ou em "Creed", embora aqui de forma algo mais intensa. 






Mesmo os singles "Don't Lose It" ou "Ticky Ticky" embora sejam claramente do domínio pop, (e as vezes demasiado pop para mim), confesso, não são descoláveis com facilidade. Destaco a urgência com que ela faz questão de cantar aqui, juntamente com o maravilhoso trabalho dos sintetizadores e dos samplers usados para nós fazer querer dançar e dançar e dançar... 






O mesmo acontece com "Silence" ou com uma das minhas preferidas deste France, "Disorder", a primeira demasiado pop e a segunda dona de um som e de uma interpretação mais intimista, daquelas que vem mais de lá de dentro e que, claramente não me soa a mais do mesmo.






Um dos momentos mais altos deste France chega quando começa a tocar "Like a Bow", com samplers muito mais em modo Rap, ou melhor, muito mais descontraídos e urbanos, que quase que nos remetem para Bristol algures nos anos 90, e no que de melhor por la se fazia (como o caso dos Massive Attack). Neste caso concreto Owlle surge como o antagonismo do som agitado, acalmando os samplers de forma quase despida de força. O mesmo acontece em "My Light Is Gone" ainda que aqui tudo isto se tenha transformado num synthpop que, tirando a interpretação nada tem a ver com "Like a Bow".






Claro que France não ficaria completo sem momentos "fofinhos" em slow, o que acontece em "Your Eyes" ou em "Free", registos ultra calmos, quase em modo lounge, que a mim teimam em não me convencer, como de costume.






Tenho ainda que falar em "9", mais densa, mais trabalhada (ou menos simples), com entradas e crescendos que valem por si só. Não consigo ficar longe desta referência que me ocorreu desde que ouvi "9" pela primeira vez: Bastille e o seu Pompeii, com o registo quase em épico, em grandioso.

Acabar por dizer que espero ainda mais de Owlle, e que seria interessante vê-la a sair do mundo mágico e cheio de algodão-doce do pop, para um caminho mais denso, e mais perturbado, só porque acho que ela ia conseguir. 


Até que alguma coisa mude fico neste France, e, acreditem, fico muito bem acompanhada.






"You put my bones in a safe place, my broken bones sleep with you", em Disorder

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