Nunca nada é demais com os Maximo Park

Como eu já disse muitas vezes aqui, para mim os Maximo Park são, quiçá, parte da banda sonora mais perfeita que a vida pode ter. No reino da Chavininha, quando as coisas correm bem ouvem-se os Maximo Park, e quando correm mal ouvem-se os Maximo Park também. Como isto já acontece há uma serie de anos e há uma serie de álbuns, suponho que seja patológico e irremediável.

Como tal, assim que começaram a sair os singles de Too Much Information, foi como ter noticias de alguém de quem não sabemos nada de novo há muito tempo, mas que continua a ter um lugar especial no nosso coração.

Quando ainda por cima nos presenteiam (mais uma vez) com uma edição Deluxe, que vem recheada com seis belíssimas versões (do country ao dream-pop), o que podemos pedir mais? No caso da banda de Sheffield muito pouco. Não acreditam? Então vamos lá ver se eu tenho razão ou não...




Too Much Information começa logo da melhor forma possível, digo eu, com "Give, Get, Take". A melodia típica dos Máximo Park. O som que passados tantos anos continua a ser a imagem de marca da banda (assim como a voz magnética de Paul Smith, o carismático e caustico líder da banda, dono do chapéu de coco mais marcante de toda a cena indie). Que, mais uma vez nos mostram que fazer música sem subterfúgios, limpa e forte pode ser assim tão fácil. Ainda assim, que não se pense que o som não evoluiu. Evoluiu sim, e aparece-nos agora mais electrizado pelas teclas de Lukas Wooler, como já tinha começado a acontecer em The National Health.


O primeiro single a sair deste album foi "Braincells", um tema mais introspectivo, que andei a ouvir em repeat (eu confesso...) desde o ano passado. Um tema muito mais electrónico, onde é mais evidente a tal evolução de que eu falava em cima, mas que ainda assim nos mostra uma faceta diferente dos Maximo Park. Como se fosse a continuação perfeita do que já estava a acontecer. O mesmo se passa com "Is It True" um dos meus momentos preferidos de Too Much Information, embora aqui com uma marca que nos remete imediatamente para o rock dos anos 80.


O segundo single a sair foi "Leave This Island", que acaba por ser uma continuação quase lógica de "Braincells", aqui com a maravilhosa voz de Smith a ganhar um papel primordial e a tornar esta musica quase perfeita, senão perfeita mesmo. A voz de Paul Smith que me entra pelos ouvidos adentro e que me domina completamente os sentidos, como só o faz alguém que nos conhece muito bem e que tem a certeza de que pontos deve tocar. (Eu prometi à Concertina que não ia divagar outra vez para contemplações amorosas como já aconteceu uma vez com os Maximo Park, mas há alturas em que não dá.). As letras dos Maximo Park são exactamente aquilo que se quer ouvir, como se de repente só aquilo fizesse de facto sentido, naquele momento, ou noutro qualquer parecido.


Chega-nos depois "My Bloody Mind", que juntamente com "Drinking Martinis" (outra das minhas preferidas), nos remete muito mais para os primeiros anos dos Maximo Park, com muito mais crueza, tensão e muito mais intensas, quer no aspecto melódico quer nas próprias letras que nos são cantadas da mesma forma crua e intensa, como merecem ser contadas as estórias reais e quase que banais da vida de cada um.



Chega então "I Recognize The Light", momento muito intenso, com as melodias que saem das guitarras, a urgência da bateria de Tom English e a claridade forte que sai da voz de Smith. O mesmo acontece com "Midnight On The Hill", com uma melodia mais arrastada que "I Recognize The Light", mas com um saborzinho a rock antigo, e com o que eu acho que é uma das melhores letras de Too Much Information.




"Her Name Was Audre" lembra me Limassol, I Want You To Stay ou mesmo Apply Some Pressure, na urgência (sim, sempre a urgência ou a inquietação se quiserem...), no ritmo, nas pausas, mas essencialmente na sua intensidade, o que também acontece em "Lydia, The ink Will Never Dry".




Acabamos com "Where We're Going", que para mim é uma historia contada, uma tentativa de criar uma musica de fim, mas que acaba por ser dos momentos menos bons de Too Much Information.



E das versões da edição Deluxe, o que dizer? Ora bem, eu sou fã de versões, assumida. E se acho que por exemplo com a versão de Leonard Cohen de "Lover, Lover, Lover" há qualquer coisa magica que acontece e que faz com que não consigamos não cantar com eles, porque reconhecemos o original mas em momento algum deixamos de ouvir os Maximo Park, acho também que a tentativa de incursão country com a versão de "I'll Be Here In The Morning" de Townes Van Zandt não assenta nada bem à banda.





Em "Out Of Harm's Way" (um original dos Journey) ou em "Final Day" aparece o baixo de Archis Tiku como o rei da festa, tudo em modo muito mais electrónico, arrisco até a dizer que quase robótico que explode num refrão quase paranóico. O que acaba por também aparecer ao de leve na versão adaptada que eles fizeram dos The Fall, com "Middlesbrough Man", aqui de forma muito mais lenta e menos vincada.



É impossível não referir a belíssima versão de Nick Drake e do seu "Northern Sky", uma versão acústica, onde a guitarra domina a voz de Smith, que se torna mais pequenina de forma a acompanhar o instrumental. simples e delicada, como que a abrir caminho para a versão final, a sublime versão de "Fade Into You" dos Mazzy Star. E se a versão original é oficialmente um dos meus "Calcanhares de Aquiles", a versão dos Maximo Park não lhe fica nada atrás. Que é como quem diz que é para lá de muito boa.





Em resumo, será que os Maximo Park nos deram muita informação? Ora bem, para mim não. Too Much Information encheu-me (mais uma vez) as medidas, e tornou-se um vicio bom. Quando ainda por cima falamos de um álbum recheado de coisas simples, melodias apuradas (típicas da banda), guitarras inquietas e uma bateria que teima em fazer com os pés se mexam a qualquer hora... é mesmo como reencontrar um amigo de infância, de quem vamos sempre gostar muito, por mais anos que passem, e que nos conhece como as palmas das mãos.


Sim, isto para mim são os Maximo Park. E algo me diz que vão continuar a ser.

"...We act as if the people we were are gone, But echoes remain, We act as if the way that we were was wrong, As if people changed..." em Drinking Martinis

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