Uma experiência chamada "Run Fast Sleep Naked", por Nick Murphy

Aproveitando a época de férias, voltamos a falar de discos. Ou pelo menos de alguns, já que nem todos me conquistaram. Hoje, o destaque vai para o novo de Nick Murphy.

"Run Fast Sleep Naked" é o álbum que Nick trará aos Coliseus lá mais para Outubro. À primeira escuta, parece-me mais "orgânico", no sentido em que as canções não soam tão polidas, tão perfeitinhas e orelhudas como as de Chet Faker. Parecem, sim, alvo de algum improviso e, talvez por isso, "Run Fast Sleep Naked" seja um disco de difícil consumo e que me tem custado a digerir.

Basta ouvir "Hear It Now" para perceber isso. Sempre que a ouço, sinto uma melodia complexa e algo descoordenada no fim e que agride os ouvidos mais sensíveis. Em "Harry Takes Drugs On The Weekend", há um ritmo e uma batida de bateria que me puxa, a voz maravilhosa de Murphy a encher a canção, mas são os strings e o baixo em background que mais merecem a minha atenção. Por outro lado, "Sanity" é das mais simples e friendly. É mais animada, e é catchy com o seu refrão que pede para ser cantado por nós a plenos pulmões. E o coro gospel a acompanhá-lo só ajuda ao sentimento. 


Em "Some People", colei na entrada inicial, calma mas com mil e uma coisas a acontecer melodicamente e no registo vocal mais grave. Ao minuto 2:40, o ritmo muda para algo mais experimental, ainda mais electrónico. Confesso que me surpreendeu e ainda hoje não sei se me convence.

"Never No" é o mais próximo de uma canção de amor neste disco e é a primeira da sequência que me arrebatou. A melodia é meio sombria mas há teclas e uma secção de sopro a iluminar o caminho. É para mim um dos temas onde se sente mais emoção, de tal forma que arrepia quando a escutamos com total atenção.


Chegamos a "Dangerous" que foi um dos singles e que colou assim que a ouvi, provavelmente pelas saudades daquela voz, que me encanta sempre. Lembro-me de pensar o quanto gostei da emoção que se sentia no refrão e assumo que, meses depois, a minha opinião mantém-se.


"Believe Me" traz-nos uma intro em piano e trompete. Num registo mais intimista, quase em modo acústico, a voz de Murphy preenche a melodia de forma exímia, mais uma vez transbordando de emoção. Ao minuto 2:38, a voz aparece distorcida, antes de ouvirmos a delicadeza do piano novamente, e é talvez o momento menos apelativo para mim.

"Message You At Midnight" é o tema que fecha o disco e é de longe a canção que mais me entusiasma. Entrou directamente para o lote das minhas favoritas, assim que ouvi a voz de Nick acompanhado pela guitarra, pelos sintetizadores e pelos strings. É emoção pura, entre amor e desejo, entre desespero e esperança. Ao minuto 2:26, entra uma secção de cordas mais definida, em staccato, a linha de baixo é uma preciosa ajuda, e a canção ganha outra cor. Um momento arrepiante, de enorme intensidade e dramatismo.



"Run Fast Sleep Naked" não é, para mim, um disco memorável, mas tem momentos que considero muito bons, outros nem por isso. Vejo-o sobretudo como uma experiência, uma forma de expelir todas as experiências vividas por Nick Murphy no último ano e meio, sem se sentir preso e dando largas à sua criatividade e à sua imaginação.
Da última vez que falei nele, por alturas do lançamento do EP "Missing Link", achei que lhe faltava um longo caminho até se reencontrar. Não sei se foi desta, mas sei que há discos que têm de existir, quase num modo «tentativa-erro» para que o artista saiba se o registo funciona ou não. Para mim, este "Run Fast Sleep Naked" é um desses casos e eu só espero que o próximo disco traga um Nick Murphy mais seguro do seu caminho, seja ele qual for.

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