Ai, Ai... Que é desta! Sim, (finalmente) vou falar no álbum do Nutini

Ando para vos falar de Caustic Love desde Abril. 
Tenho, também, a noção que Abril já foi há muito tempo, e que é quase uma vergonha não o ter feito. 
A verdade é que tenho muitas dificuldades para falar nele. No terceiro álbum de Paolo Nutini. 
E, confesso ainda, que a minha teimosia não me deixou falar em mais nada (excepção feita as crónicas de Paredes de Coura). Tudo por uma simples razão: porque mais nada fazia sentido.

Começo então por explicar que eu acho, que há álbuns que mudam a vida das pessoas. E que, por uma qualquer razão ou por outra, se instalam e ficam a fazer parte da nossa história. 
Uns porque nos abrem os olhos num momento qualquer, outros porque tocam sempre nos sítios onde estamos e os passamos a associar a momentos e a pessoas, e outros só mesmo porque aparecem no sítio certo, no momento certo e nos dão conforto à alma. 
No meu caso, Caustic Love foi isso tudo. E mais alguma coisa. 




E, isto tudo porquê? 
Não, não foi só culpa da voz (quente e áspera) de Nutini (até porque essa já me tinha conquistado muitos anos antes, eu confesso.). Nem foi só pelas letras maravilhosas das músicas. Nem pelo uso brilhante dos samplers. Nem porque isto ou porque aquilo em particular. 

Caustic Love é um dos álbuns mais completos que eu ouvi nos últimos tempos, onde os instrumentos e as orquestrações convivem de forma harmoniosa com os samplers e as distorções dos computadores. Um álbum onde se nota um cuidado extremo com a forma, com o resultado final, no fundo, com aquilo que a pessoa que o está a ouvir sente e/ou com aquilo que ele próprio faz a pessoa sentir. 
Se em vez de música estivéssemos a falar de Design era mais simples, citava Louis Sullivan quando ele defende que "form follows function". E aí, tudo era muito mais simples de compreender.
Até as pausas que acontecem no meio das músicas e entre elas. 
E até, também, a minha pausa.





Porque, quer se queira quer não, falar de AMOR de forma minimamente séria, não é propriamente um assunto fácil. 
E não, não estou a falar aqui (só) de amor romântico, daquilo que se sente pela pessoa objecto da nossa afeição, de luxúria, ou de paixão. Aqui fala-se de AMOR, mas de todas as suas formas. Não só das "formas" que eu já referi, mas do amor pela mãe, pelo gato, pelos amigos, e por nós próprios. Ou mesmo da falta dele e da dor que essas coisas todas podem trazer. Da dor boa, e da menos boa.

Em Caustic Love fala-se de muitos amores. Desde um AMOR mais apaixonado que vai do funk de "Scream (Funk My Life Up)" ou "Fashion" (onde temos vontade de dançar e cantar, com um som quase old school, num tom sexy de conquista, e, que também conquista desde o primeiro acorde,) até a um AMOR mais sereno, aquele da calmaria boa, mais sossegado como em "Better Man" ou "Someone Like You", (canções de amor das antigas, daquelas que se não fosse a voz de Nutini seriam claramente musiquinhas, e que aqui se transformam em muito mais do que isso, e passam a ser uma ode. Naquilo tudo a que uma coisa destas tem direito: força, intenção, uma orquestração "do caraças" e a intenção. Sempre a intenção...)


 
Fala também de um AMOR que tem uma forma mais "infantil", mais crente, mais naif, mais inocente, como em "Numpty", "Coming Up Easy" ou "Cherry Blossom" (que nos remetem a um sitio qualquer daqueles felizes, de uma forma calma (ainda que as guitarras de "Cherry Blossom" sejam mais "do rock") e que a mim me acaba por levar a Stevie Wonder e a memórias da minha infância, daquelas que me fazem regressar a sítios bons e que me fazem sempre sorrir.)




Mas falar de AMOR, de forma geral, não pode deixar de fora nunca o amor pela família, o que acontece com a verdadeira declaração de "amor incondicional" à mãe em "Looking for Something" (onde reina o baixo e onde Nutini nos ensina que "...hearts can't break themselves looking for something, leaving with nothing, But souls can't save themselves learning to fly..."), até "Diana" onde nos mostra um outro lado de amor mais sensual, mais "moderno", e que sai do registo anos 70 tão presente no álbum inteiro, lá está, como diz Sullivan, quer na forma quer no próprio conteúdo.



Caustic Love fala, também, de um AMOR consistente e universal, como em "Let Me Down Easy" (com um sampler old school o suficiente no início, que me lembra as orquestras de jazz e as big bands, e com uma harmonia que acompanha o poder da voz de Nutini, sem nunca a abafar nem sequer lhe dar mais protagonismo), e que chega ao desamor em "One Day", mais denso e escuro como estás coisas tem que ser, (mais uma vez marcada pela voz doida de Nutini a ser aqui a personagem principal e a levar me ás memórias dos blues, mais precisamente a uma delas, a de Otis Redding, mas sem colagens. Com Nutini a ser ele próprio e a orquestra a dar-lhe todo o drama e a ajudá-lo a "sofrer". Como tem que ser.)



Claro que estas músicas todas vêem acompanhadas de outras experiências como "Bus Talk" ou "Super Fly" interlúdios "samplados" que contam histórias por si só, desde uma conversa entre "vizinhas" (daquelas que nós divertem no metro) ou pedaços de vida. Porque o AMOR também é isto.

Esse tal AMOR "multiforme" que nos leva, finalmente, a "Iron Sky". A sensação de pertença a um amor universal e às considerações sobre o AMOR em todo o lado e de toda a gente. Das coisas de cada um. "Iron Sky", aquela música que, ainda hoje e passados tantos meses, me faz ter a sensação de "murro no estômago". Aquela música tão bem pensada, tão cheia de drama, tão carregada, e tão libertadora ao mesmo tempo. Aquela que me dá sempre mais que pensar. "A tal". A que faz tudo fazer mais sentido. nem que seja por 5 minutos.



O que para mim é (ainda) mais difícil, quando se fala dessa coisa que é o AMOR, é conseguir ser objectivo e ao mesmo tempo esquecer a racionalidade (independentemente do paradoxo), o saber a novo, mesmo com todos os tons do passado (porque todos temos memorias e bagagem de algum tipo). 
E a magia aqui acontece se pensarmos que, por um qualquer acaso, Paolo Nutini, parece que tem, na voz, aquele tom especial de quem sofreu tanto como para carregar na voz todas as dores e as alegrias de todos os amores do mundo. 
A magia de ter uma intenção mais do que concreta nas historias que nos conta e nos samplers (que vai buscar quando compõe e que o ajudam a contar tudo e que fazem as historias fazer mais sentido), sem nunca se aproximar, nem por um milímetro, daquela imagem de ídolo adolescente parvo, ou de nos poder conquistar só porque é bonitinho e tem um par de olhos azuis, ou de, por outro lado, se tentar colar às vozes que, como a sua tem tantas cores e tantas estórias para contar.
A sua função é fazer-nos sentir. Só com a sua voz e os seus sons. E isso ele consegue. E tira nota 20.




Pois é, falar de Caustic Love é difícil. Porque, de uma forma qualquer é, também, falar de mim. Sempre assumi isto. 
Mas como diz o refrão de Iron sky, as vezes temos que: "...to rise, over Love, over Hate, Through this iron sky that's fast becoming our mind, over fear and into freedom...", e não terá sido esta, concerteza, a forma mais perfeita e objectiva de falar sobre ele. 
Mas foi a minha. 



"...It Was in Love I Was Created, and In Love Is How I Hope I Die..." em "Coming Up Easy".


p.s. A única coisa que eu posso garantir é que, se por acaso há alguém que ainda não ouviu nada, nem uma musiquinha só, de Caustic Love, que me faça um grande favor: com ou sem preconceitos, contrariado ou não, passem por lá os ouvidos. Vão com eles bem abertos. Porque este é daqueles álbuns que vale mesmo muito a pena. Palavra de Chavininha.

1 comentário:

  1. Sem margem para dúvidas o melhor álbum que ouvi nos últimos anos.
    Obrigada Chavininha por me teres dado a conhrecer este Sr.
    Excelente trabalho na crítica e discrição .Like
    Nini

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