Viagem às Músicas do Mundo: "Manga", Mayra Andrade


"Manga", o novo disco de Mayra Andrade saiu em fevereiro e desde essa altura que roda incessantemente cá por casa. Colou à primeira escuta, muito mais do que o anterior, "Lovely Difficult". Não que não goste (gosto e muito), mas "Manga" encaixou perfeitamente nos meus ouvidos, sobretudo nesta onda que levo das «músicas do mundo»

Mayra soa diferente. Está mais solta, mais colorida, mais soalheira, (ainda) mais apaixonada. E o disco reflecte tudo isso. Tem uma musicalidade incrível, nota-se a liberdade criativa, o calor, a alegria, a esperança, a mistura de culturas e sons. É a lusofonia a fazer das suas.


"Afeto", tal como "Manga" foram das primeiras que ouvi e são dos temas que mais têm rodado cá em casa. Cheios de energia, de groove, que nos dão vontade de dançar e de nos esquecermos de tudo o que não nos faz bem.


"Pull Up" é como um shot de energia, embora mais africano, que nos obriga a mexer os pés mesmo que não saibamos como. "Vapor Di Imigrason" (dedicada em especial aos cabo-verdianos) e "Kodé" abrandam o ritmo e puxam ao lado mais emotivo e também mais tradicional.


A batida contagiante de "Limitason", que se entranha no corpo, faz-nos querer mexer outra vez e deixarmo-nos levar pela forma como a canção se desenvolve. "Segredu" é mais uma que pede que mexamos o esqueleto - e eu aconselho a ouvir com o volume bem alto...


O momento de acalmia chega com "Plena", mais intimista que nos faz render à doce voz de Mayra Andrade. Num estilo mais jazzy que lhe assenta sempre bem, a melodia aquece, enquanto a voz de Mayra envolve. O mesmo acontece na delicada "Tan Kalakatan" e em "Guardar Mais", oferecida por Sara Tavares. Esta última é de uma beleza desarmante e terna. Pelo meio, "Terra da Saudade" leva-nos de volta aos ritmos tradicionais.


Quase a fechar, "Badia" que foi crescendo a cada audição, com a sua melodia contagiante e a incessante vontade de bater o pé. Mas a celebração não ficaria completa sem "Festa Sto Santiago", (mais) uma homenagem aos ritmos de Cabo Verde, perfeita para encerrar o disco, uma daquelas canções para abanar o esqueleto e sobretudo para viajar.


"Manga" é um disco cheio de cor, de ritmo, de alegria e de boas energias. Somos felizes a ouvir Mayra Andrade neste álbum e a vontade é de ouvir mais e mais.
Por isso, que não tarde o novo trabalho.

nota final: fui vê-la no Capitólio, no dia 2 de março. Não foi a primeira vez que a vi, mas foi a experiência mais próxima de um concerto. pudemos dançar, cantar, aplaudir, assobiar, gritar (em sala, sentados, somos sempre mais comedidos). Por isso foi um momento incrível. O alinhamento incluiu todos os novos temas (e alguns clássicos) e para mim as canções ganharam mais força. A intensidade de "Manga", a doce "Tan Kalakatan" a terminar em modo «dancefloor», a emoção em todos os rostos quando se ouve "Vapor Di Imigrason" ou a intimista "Plena" que nos deixa sem chão. "Guardar Mais" foi um dos momentos mais bonitos, em acústico, honesto e sentido. "Reserva Pra Dois" foi a cereja no topo do bolo, pelo menos para mim.
Houve muito amor naquela sala, tanto no palco entre músicos, como da plateia para o palco e vice-versa. Uma comunhão como nem sempre se sente, um entusiasmo que nos regenera. Mayra Andrade foi genuína, intensa e delicada, forte e vulnerável ao mesmo tempo. Nessa noite, foi um raio de sol brilhante, o abraço quente em noites frias.

Sem comentários:

Imagens de temas por merrymoonmary. Com tecnologia do Blogger.