Breves considerações sobre o último dia de Nos Primavera Sound


Chegado que estava o terceiro dia de Nos Primavera Sound, foi, de novo, tempo de regressar ao Parque, para um dia que se supunha menos solarengo mas mais dançante. E, se exceptuarmos o facto de Jarvis Cocker ter sido a estrela maior que, para mim, passou no parque da cidade, este terceiro dia era o dia com mais coisas que eu queria ir ver.

Chegámos a tempo de ver Lucy Dacus no palco SuperBock, que me entreteve o bastante para ficar registada. Mas, como já se sabe que as entradas no recinto são sempre marcadas por encontros e desencontros com os amigos, há concertos que acabam por ficar mais marcados por isso do que por mais nada. Foi o caso deste, até porque, depois, viria Jorge Ben Jor, e isso sim seria inesquecível. 



Jorge Ben Jor, que chamou o sol de fim de tarde e que brilhou tanto como ele, que fez toda a gente dançar com o seu samba-funk, que chamou as lembranças de Prince e James Brown e que me fez dançar com tantas forças quantas tinha. Com uma super banda e com a sua super voz. Impossível ficar parado a ouvir o clássico da música brasileira e impossível não cantar com ele ao som das suas musicas que me foram marcando anos fora, e que estavam ali, naquele momento.

Foi, sem qualquer dúvida, um dos melhores momentos deste Nos Primavera Sound, não só pelo espírito como pela qualidade inquestionável de Jorge, que encheu o palco NOS e nos trouxe uma tropicalidade que só foi esquecida pelos kispos e casacos do público, e pelo vento frio que vinha do mar.

Depois, rumámos até Amyl and The Snifers, num concerto sofrível que não nos prendeu o suficiente, tendo feito com que eu tenha ido investigar o que se passava no palco Seat, no caso, os Guided By Voices, que tocavam entretanto.

A grande vantagem de haver quatro palcos num festival, é que cada um pode ver o que quer, no caso concreto, é a de que podemos ir vendo onde queremos ficar, e no meu caso em particular a de que não queria ver Rosalía e a de que preferi ver Kate Tempest enquanto jantava.

Kate Tempest, que não é novidade no meu caso, deu um magnífico concerto de spoken word, com um som extraordinariamente limpo que vinha do palco Seat. Foi outra das melhores surpresas do Nos Primavera Sound, até porque da primeira vez que me tinha cruzado com ela nem me tinha encantando por demais. Agora o caso inverteu-se e foi impossível arredar pé enquanto ela esteve em cima do palco.

Como eu disse ali em cima, Rosalía estava fora dos planos, e era hora de ir ver Neneh Cherry. 


Com uma extraordinária dose de girl power e com uma banda para lá de espectacular, Neneh foi um dos melhores concertos do ano deste Primavera. Com uma energia inesgotável, a americana lembrou o publico mais céptico que é muito mais do que "Seven Seconds", e entreteve-me com o seu som electrizante e electrónico durante a hora e qualquer coisa que nos separava de Erykah Badu.
Neneh dançou e cantou de forma inacreditável, e tornou o Parque frio numa pista de dança quente e cheia de intervenções políticas e sociais, mais ou menos disfarçadas, que me fizeram dançar e cantar com ela. Um concerto que foi mais do que só um concerto, foi sim aquilo que se espera num festival.

E, já passava da meia-noite quando Neneh se despediu (...o que me fez ficar com pena daquela hora ter passado tão rápido...), sendo hora de ir ver Erykah Badu, a rainha.


Num palco NOS mais do que cheio à espera dela, fez-nos esperar mais de 45 minutos (único atraso do festival que eu me tenha apercebido), naquela noite fria de ontem. Mas nem isso fez com que alguém fosse embora. Estava toda a gente à espera da inacreditável Erykah Badu, a rainha. Que apareceu sendo ela mesma: uma rainha.
Dançámos tudo o que ainda tínhamos força para fazer, e sentimos a presença de Erykah no parque, da melhor forma possível. Com um cenário absolutamente incrível, Erykah fez com que a espera tivesse valido a pena e transformou as últimas horas no parque numa lembrança incrível que vai ficar para sempre. Valeu a espera e valeu o frio, de que ninguém se lembrou enquanto a rainha estava em cima do palco.

E foi assim que acabou. E eu sai de lá com a mesma sensação de todos os anos, "...foi pena já ter acabado mas para o ano há mais...", espero que com um cartaz cheio de coisas das que eu gosto e com menos frio. Mas tudo isso acabam por ser fait-divers se formos a fazer o balanço dos últimos três dias: música boa, num sitio impecável no meio de pessoas de que eu gosto. Acho que não se pode pedir mais. Certo?

Acabou o Nos Primavera Sound 2019, venha o próximo.
Até para o ano, no parque. 

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