Disco do Dia: "Les Orientales", Leo The Eskimo


O destaque de hoje vai para o álbum de Leo The Eskimo, sobre quem já falei aqui. "Les Orientales" é uma referência à obra de Victor Hugo - e a primeira coisa que se ouve é mesmo Leo a recitar um poema do autor francês em "Merci Victor" - mas o disco surgiu, diz o autor, por necessidade, sendo a Música a forma que Leo encontrou para ultrapassar uma separação.

Acredito por isso que tenha pegado em tudo o que (lhe) aconteceu, e permitiu-se criar com total liberdade. E isso nota-se ao longo das canções de "Les Orientales". Muitas delas são diferentes entre si, no som, no ritmo, na estrutura, mas encontramos sempre um fio condutor e característico do seu trabalho: linhas de guitarra envolventes.

"Smoking Aces" é o tema de abertura, onde os synths e as teclas nos chamam a atenção logo ao início, mas eu confesso que são a guitarra e o baixo, incríveis, que me prendem. Em "La Mentira", que foi escrita logo após o fim do relacionamento, é sobretudo o refrão que me entusiasma, com o seu feeling agressivo, enérgico também, ainda mais notável na parte final.


"Soviet Magnet" é uma canção cheia de ritmo, com guitarra e percussão em perfeita harmonia. E a voz quase em spoken word acaba por fazer todo o sentido, como se fosse um contrapeso à luminosidade da melodia. Num registo quase oposto, "You Know Nothing". Que, tal como "Soviet Satellite" me levaram até ao som dos Balthazar, com as suas melodias cativantes e linhas de guitarra suaves, delicadas e coloridas.


Em "Les Orientales", encontramos novamente uma linha de guitarra maravilhosa, servindo de suporte a uma letra incisiva. O refrão com as palavras «les orientales» em background é uma bela surpresa, mas, para mim, o melhor de tudo é o crescendo da melodia na parte final.


"The Rhine Song", diz Leo, é uma breakup song por excelência. Chega-nos num registo acústico, melancólico, quase triste, que nos vai envolvendo devagarinho e nos surpreende nos minutos finais com a entrada quase subtil das teclas. E ao ouvir "Clint Eastwood", não pude deixar de a associar aos westerns (sobretudo aquele momento que nos filmes antecede um duelo) devido à entrada em slow tempo. É um instrumental, onde a guitarra eléctrica brilha intensamente, por entre beats que dão ritmo à canção e samples que lhe dão corpo. É viciante e uma das melhores coisas deste disco.


Já "Love At The Edge Of A Razorblade" traz-nos um som mais cru, onde me pareceu ouvir influências dos primeiros discos de Radiohead. Uma linha de guitarra em desespero, a melancolia típica dos anos 90. No fim, a canção ganha alguma cor, com a a entrada das teclas, como se para nos dizer que nem tudo está perdido. E com esse pensamento, talvez faça todo o sentido fechar o disco com "The Wave", onde se ouvem guitarras enérgicas e uma bateria cheia de ritmo. Um registo mais upbeat, que nos dá vontade de mexer o esqueleto.


"Les Orientales" é um disco forjado a melancolia, tristeza, alguma ira, muita desilusão. E umas quantas vezes, encontramos sinais de aceitação, de superação. O luto está feito.
Agora, é tempo de seguir em frente, espero eu, com mais e boa música.

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