Ao Vivo: Esteves no Teatro Ibérico

Aviso à comunidade: Uma semana depois do lançamento do disco homónimo de Esteves, o mesmo foi apresentado ao vivo, e por isso, entre opiniões sobre o concerto, poderão estar apontamentos sobre o disco.

Foi um Teatro Ibérico muito bem composto, curioso e ansioso que no passado dia 16 de Novembro recebeu efusivamente Esteves, projecto a solo de Tiago Esteves. A noite era de apresentação ao vivo do seu primeiro disco, que, como já dissemos aqui, nasceu da sua aventura em terras australianas.

E que noite tão bonita e mágica que se viveu.
Ao primeiro vislumbre do palco, por si naturalmente bonito, é a distribuição pouco usual dos instrumentos e dos músicos que nos chama a atenção. (Minutos depois, iríamos perceber que, para além da beleza estética do palco, algo mais importante beneficiara desta disposição: o som, brilhantemente conduzido pelo Diego Reis, que acompanha o Tiago há largos anos.)


Com a redução de luz ao mínimo, Esteves entrou sozinho em palco, puxou da guitarra, e deu início à viagem com a canção "Rei do Mundo". É uma canção delicada e envolvente, que nos apresenta um mundo sem fim e pleno de oportunidades, que chama por nós e por vezes nos afasta de quem mais gostamos. Este é o sentimento presente em "Em Junho Já Não Vais Chorar", tema que traz ao palco Raquel Merrelho no violoncelo, João Gil no piano e guitarra eléctrica e David Santos no contrabaixo (em disco, recebe densidade extra com a bateria de João Sousa). É uma canção emotiva, que mexe cá dentro e que, para mim, tem a sua força maior na orquestração, parecendo integrar em si todas as saudades do mundo.


Com "Fiji" (que em disco colou de imediato com a melodia e o refrão que se entranha e arrepia a pele), somos teleguiados pela guitarra hipnotizante até uma qualquer ilha paradisíaca. A entrada da banda no refrão, cirúrgica, arranca-nos da intensidade emocional dos versos e faz-nos vibrar. Melhor música do disco.


"A Garça", tocada em jeito de agradecimento a Flak, é a canção que se segue no alinhamento, numa versão mais delicada e mais intimista que o original. Antecede mais um momento emprestado, desta vez aos seus Trêsporcento, com "Actor Empenhado". "Para Subir Há Ajuda" foi outro dos temas recuperados da banda lisboeta, desta vez a solo, resultando num momento bonito de comunhão com o público, que cantou em uníssono. Pelo meio, Esteves regressou ao seu disco com "Fuga", uma música que transmite o peso da sua história, intensificada pelos acordes tensos do piano.

Em "A Despedida", a guitarra acústica de Tiago faz-se acompanhar pela guitarra eléctrica de João Gil, criando uma melodia cativante, que ganha corpo com a entrada do contrabaixo. A bonita "Vista de Cima" irrompe logo de seguida, e a sensação de conforto que temos ao vivo é ainda mais forte do que em disco. "Floresta" é a canção seguinte. Não faz parte do disco (quem sabe não fará parte do próximo?) e ao ouvirmos com atenção, percebemos porquê: é provavelmente a canção mais luminosa do alinhamento.


Após um breve interlúdio efusivo e barulhento, o encore traz de volta Tiago e a sua guitarra, para mais uma canção dos Trêsporcento. "Amanhã", a faixa escondida do último disco, encaixa bem neste universo folk de Esteves, e dá origem a um novo momento acústico irrepreensível. Para o fim, fica "Grande Salto". É a canção que fecha o disco e que traz de novo ao palco os outros músicos. É, sem sombra de dúvida, outra das minhas canções favoritas, mais uma que nos leva a percorrer o mundo. O instrumental é poderoso, quase cinematográfico, uma espécie de banda sonora que nos acompanharia numa roadtrip pelas planícies australianas. É um daqueles momentos únicos e indescritíveis em que se vê e sente magia em palco. Esteves não poderia ter terminado o concerto de melhor forma, deixando-nos com os corações cheios.

O disco permite-nos reviver aquele(s) momento(s) mágico(s) sempre que quisermos. A energia em palco é difícil de captar em disco, fica (quase) sempre aquém do que sentimos e ouvimos ao vivo. Para mim, são sempre momentos intensos em que a amizade, a mestria dos instrumentos, a paixão pela música ganham força e vida e chegam a todos nós. Mas em "Esteves", isso tudo sente-se, muito graças ao trabalho exímio de Diego Salema Reis e dos restantes elementos envolvidos.

Para quem acompanha o trabalho de Tiago Esteves desde sempre, ter este disco nas mãos só pode ser motivo de orgulho. Este "folk hipnotizante" é o registo perfeito para que a sua voz envolvente e as suas canções honestas tenham o espaço que merecem. E é por isso que “Esteves” é um dos meus discos de 2019.

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