Disco do Dia: "Hypersonic Missiles", Sam Fender

Hoje, o disco escolhido pertence a Sam Fender, músico britânico que lançou o seu primeiro álbum em Setembro. Confesso que, quando vi as inúmeras publicações da NME, não me puxou muito - é sabido que no meu caso, quanto mais se fala de um artista, menos vontade tenho de o ouvir, pelo menos no momento. E por isso, se Serge Pizzorno dos Kasabian não tivesse falado nele (é um dos artistas que faz parte do cartaz de Solstice II no próximo Verão), provavelmente nunca o teria ouvido.
E assumo que estaria a passar ao lado de uma das grandes novas vozes britânicas. Foi sobretudo isso que me fez render a Sam Fender. Não tanto o seu ar atormentado, que nos remete para os velhos e bons tempos da música britânica, nem o seu som mais roqueiro que, dizem os críticos, o identifica como o "novo" Bruce Springsteen.

Mas vamos lá falar de canções.
O disco abre com o tema título "Hypersonic Missiles", que mostra a sua visão do que se passa no mundo actualmente. Melodicamente, é o primeiro exemplo de «canção de estádio», está-se mesmo a ver tudo a vibrar naquele refrão louco. É uma canção que cola, o instrumental com o saxofone é extremamente interessante (a lembrar desde logo os anos 80), mas (infelizmente) é substituído pelos «oh oh oh», num piscar de olho óbvio às massas.


"The Borders" tem um som mais «antigo», old school e por isso encaixou (ainda) melhor nos meus ouvidos. Notam-se alguns pózinhos de The War On Drugs, sobretudo na cadência da bateria. O solo de saxofone volta a transportar-nos para tempos passados, o solo de guitarra também. É uma viagem boa ao passado, esta.


"Dead Boys" apresenta-nos um tema sensível, a abordagem ao suicido, à doença mental que afecta cada vez mais gente, e neste caso particular rapazes e homens. É emotiva q.b., com um crescendo e uma força incríveis. O final é absolutamente frenético e ao mesmo tempo traz-nos uma sensação de acalmia. É seguramente uma das minhas preferidas do disco.


"Play God" é uma canção com um groove incrível que não descola, e em "That Sound" é a cadência da bateria que impressiona. As influencias dos The Strokes (mais concretamente de "Last Nite") são notórias em "Will We Talk?", canção onde o trabalho da guitarra e da bateria se apresenta irrepreensível.


Já "Leave Fast" foi-me conquistando aos poucos. É uma canção melancólica q.b., com muito mais emoção e sentimento na voz, que soa no ponto sem nunca se tornar "lamechas".
E "Use", na versão ao vivo, voz & piano, é para mim um dos melhores momentos do disco, cheio de intensidade e de intenção. E um exemplo mais do que perfeito do poderio que é esta voz de Sam Fender.


Infelizmente, nem tudo é muito bom neste "Hypersonic Missiles".
"White Privilege" é para mim uma canção demasiado simples (e às vezes algo paternalista) que não acrescenta nada ao disco. "You're Not The Only One" só se safa porque tem um solo de saxofone do caraças, e "Saturday" é simpática, mas é também mais uma com um refrão que parece ter sido feito para os estádios. "Two People", bem mais calma, faz-nos entrar no clima certo para receber "Call Me Lover", a balada incontornável nestas coisas da Música. Aparentemente, o negócio assim o obriga, mas será que tem mesmo de existir?


Ainda assim, nenhuma é assim tão má que nos faça esquecer o bom. "Hypersonic Missiles" não é um tiro ao lado. Muito pelo contrário, é um primeiro álbum bem conseguido, que aborda temas actuais ao mesmo tempo que recupera um som vintage por vezes esquecido.
Admito que algumas vezes me parece (apenas) um daqueles discos repletos de canções de estádio, com riffs de guitarras alucinantes e refrões orelhudos. Mas, ao mesmo tempo, sinto que há aqui uma voz incrível, honesta, aguerrida, confiante que ora nos puxa para a euforia ora para a melancolia. E essa voz surpreende quando soa mais pessoal, mais intimista, mais sofrida, até. Por isso, só espero que Sam Fender consiga manter-se no caminho certo e não se deixe levar pelo ímpeto de querer agradar às massas.

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