Disco do Dia: "Live At La Clef", Somehow

Não tenho por hábito falar de discos gravados ao vivo. Mas este "Live At La Clef" tornou-se obrigatório. É um álbum unplugged, gravado em Dezembro de 2019, por Somehow, o projecto do francês Erwan Pépiot, dos mais interessantes que descobri nos últimos tempos e sobre o qual falei aqui, aqui e aqui.

O disco integra sobretudo canções do mais recente "Low Tide" (2019), mas não deixa de fora algumas de "Hidden Memories" (2017), como "Escape", "Someday", e "Meet Me At The Western Point" (tenho pena que "While The Days Go By" não tenha feito parte do alinhamento, quem sabe não terei oportunidade de ouvi-la ao vivo um destes dias?).

À primeira escuta, notam-se as referências (já assumidas) de Morissey e The Smiths. Mas nota-se sobretudo a qualidade de Erwan Pépiot, enquanto autor, cantor e músico. Os arranjos cold wave dão lugar a um som mais intimista, mais "simples" e directo. E as canções continuam a soar incríveis!


A guitarra acústica vibra intensamente a cada acorde em todas as canções, e talvez por isso me seja tão difícil destacar aquelas que mais me marcaram. Continuo a deliciar-me com "There's A Riot Coming" e "Shut Your Eyes And See", duas das minhas preferidas do álbum "Low Tide", mas há uma impaciência tremenda em "Modern Life", intensidade e vulnerabilidade desarmantes em "Invisible Walls" e "Meet Me At The Western Point", e uma urgência avassaladora em "Over The Raindrops".

Tudo isto está presente também na performance vocal de Somehow, irrepreensível, segura, distinta e afinadíssima. Devo confessar que fiquei agradavelmente surpreendida. A voz de Erwan soa tão bem, ora mais melodiosa, ora mais urgente ou vulnerável, mas sempre intensa e emotiva. Senti o coração cheio, recuperei as boas sensações que tive quando o ouvi pela primeira vez.

Em "Live At La Clef", Somehow mostra-nos o lado mais visceral, menos polido das suas canções, e o resultado é surpreendente. Sente-se a natureza primária das músicas, a força, a intenção, sem que se percam o ritmo e a pujança dos «originais». Somos confrontados com uma energia brutal, com as emoções à flor da pele, como se estivéssemos lá, com ele, naquele preciso momento. E isso é, e será sempre, impressionante.

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