Coisas que faltam dizer de 2019, só para ele ficar arrumado, por Chavininha


Já se sabe que eu não gosto de coisas que acabam. 
E talvez ainda goste menos de fazer dissertações sobre o que se passou, na esperança de descobrir o que de melhor fiz no ano que hoje acaba (até porque sei que me vou esquecer de qualquer coisa assim muito importante e isso enerva-me), mas, vamos tentar arrumar a casa das memórias musicais de 2019, que foi um ano tão rico em coisas novas, gargalhadas e memórias.


A única coisa que foi mesmo fácil de decidir foi o meu álbum do ano: Late Night Feelings, de Mark Ronson.
Um álbum que me acompanhou desde que, ainda em 2018, saiu "Nothing Breaks Like a Heart", e que foi a melhor companhia que se pode pedir durante o ano inteiro. Late Night Feelings é um álbum coeso, inspirado e inspirador, circular (no sentido de ter um início, um meio e um fim, encerrando-se a ele mesmo ainda que permita que nós criemos o nosso próprio alinhamento), um album em que temos Mark Ronson a ser ele mesmo e sem filtros. 
Late Night Feelings é um álbum sobre corações partidos, sem nunca ser lamechas. Um album que me fez ter a certeza de que, afinal, na música, ainda há todo um mundo a descobrir, um dos que me preenche ainda hoje a alma como muito poucos conseguem, por mais vezes que o ouça, e que traz com ele a realeza da música e sempre qualquer coisa de novo.

Não falei sobre álbuns aqui durante o ano, porque, na verdade, para além de não ter achado nada relevante andei muito mais entretida a descobrir coisas novas noutros mais antigos, e portanto de 2019, recuso-me a destacar mais algum do que este.



Para mim, 2019, foi essencialmente e, se calhar até mais do que tudo, um ano de muitos e bons concertos, e aqui é que a coisa começou a complicar para tentar escolher os melhores...

Se, como já disse a Concertina, os Massive Attack abriram o ano no Campo Pequeno com chave de ouro, foi só quando a delicadeza transcendente de Silva soou que o meu coração ficou mais cheio. Silva que, para mim, continua a ser a epítome de se saber fazer bonito, que me põe sempre com um sorriso nos lábios e a pensar que a vida é muito mais bonita do que parece, daí que teria sempre que falar no belíssimo concerto da Casa da Musica em Março.

Outro dos concertos que mais me marcou neste 2019 foi Jarvis Cocker no Nos Primavera Sound. Com toda a ousadia a que já nos acostumou ao longo dos anos, e com aquela chuvada de 7 minutos que nos inundou o corpo, Jarvis aqueceu-me a alma como poucos sabem e conseguem fazer. E tenho sempre que me lembrar daquela premonição final, "Cunts Are Still Running The World"... que se formos bem a ver era a premonição perfeita para o que iria acontecer no mundo no resto do ano. Jarvis que foi mais do que perfeito, e que nunca me deixa ficar mal.

Aliás, todo o Nos Primavera Sound me marcou trazendo com ele a delicadeza única de Aldous Harding, as memórias de Neneh Cherry, e que acabou como começou: com frio, mas, ao som da voz quente de Erykah Badu. Momentos que ficam para sempre na memória e ajudaram a que, poucas semanas depois, as memórias soltas de anos anterior fossem postas em ordem para serem ainda melhor arrumadas ao som de "This Life" dos Vampire Weekend no Nos Alive, eles que foram a entrada perfeita para um dos meus concertos do ano, o meu rendez-vous com Beth Ditto e os Gossip (que eu continuo a achar que foi o concerto mais underrated do ano em Portugal).


Gossip no Nos Alive, por Chavininha 


Talvez por ter sido um dos meus preferidos, e um dos únicos a que eu não ia mesmo faltar, não sei, sinto que, se calhar, ainda não tenho a distância suficiente para perceber isto tudo assim tão bem. 
Sei que Ditto me aquece sempre a alma, e que no Nos Alive não foi diferente de si mesma, tendo tido em mim aquele feito estranho de terapia que os bons concertos tem sempre. Ditto fez-me ter a certeza de coisas que eu nunca achei que ia conseguir ter. 
Se tivesse que escolher só um, teria que ser este: com o recinto quase vazio, comigo a dançar ali perto do palco, como se celebrar os 10 anos de "Music For Men" fosse mesmo só para alguns, os que não ficaram retidos no tempo e que decidiram dançar com eles para arrumar a alma, como deveria sempre ser.

À frente. Tenho que falar em Coura, incontornável, como sempre, que me fez ouvir o novo de Boy Pablo e as memórias únicas dos New Order ou rever Patti Smith ou os meus queridos Suede, de quem eu já tinha tantas saudades. Coura que é sempre inesquecível, porque ali, nas margens do Taboão há sempre magia. Portanto, descrever a importância de ver estes senhores em Coura saberia sempre a menos, e eu recuso-me a fazê-lo. Ou se esteve lá ou não. Coura que acaba sempre por definir o ano, e que desta vez não foi diferente. 

Aí foi quando eu achei que nada mais me ia preencher a alma em 2019. Só que o Outono ainda tinha muitas cartas na manga: She Drew The Gun, que vieram aquecer a noite do outro dia ali ao Hard Club, uma noite mágica de boa musica e de gargalhadas com amigos, ou estar presente na estreia de "Miramar Confidencial", no que eu chamo de "David Bruno Show", uma mais do que brilhante surpresa e um dos concertos mais surpreendentes e marcantes do ano que está quase a acabar, um daqueles que devia ser obrigatório para quem continua a ter a mania de se levar assim tão a serio, e que ajuda a desconstruir as mentes mais fechadas ao som de muito boa musica como só o "miúdo de Gaia" sabe fazer.

(Isto é mesmo muito complicado, até porque eu já só consigo pensar em Angel Olsen daqui a 3 semanas ou em Michael Kiwanuka que vem cá em Maio... e pensar em tudo o que me estou a esquecer, porque isso é quase aquilo que eu tenho mais a certeza, que se pensar melhor nisto ainda há mais coisas...)

 

Das musicas, então nem é bom falar, porque senão não saíamos mesmo daqui. Mas se ficarem curiosos, basta ouvirem a última Friday Sessions, onde eu também sei que devem faltar canções, mas que tem um resumo básico daquilo que eu andei a ouvir em 2019.



Acabo como comecei: eu não gosto de coisas que acabam. 
E 2019, não tendo sido propriamente um ano fácil, foi mais um que veio recheado de coisas boas, das que ficam registadas na memória. 
Portanto, que venha 2020, porque, da mesma forma que eu não gosto de coisas que acabam, ainda gosto mais de pensar que o novo é sempre melhor, e citando Jarvis Cocker "... must I evolve? YES, YES, YES, YES..."
Palavra de Chavininha.

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