Concertinices sobre Discos: edição 2021 (II)

Fonte: Pinterest


Estamos quase, quase a terminar o período de férias. E, antes que os dias se tornem mais agitados, eis mais um capítulo das «concertinices» sobre discos, que mantém o foco nos lançamentos da primeira metade do ano.


É sabido que o moço está entre os meus favoritos nestas coisas da música, é dos que mais me emociona, as suas músicas tocam-me o coração. Mesmo quando lhe dá para ser mais «experimental». Neste disco, contou na co-produção com Aaron Dessner e notam-se logo os arranjos ricos e complexos em cada tema (e, por exemplo, em "Crowhurst's Meme", aquele piano à The National, não engana). É mais uma aventura sonora, como se lhe tivessem dado finalmente espaço para criar sem filtro e sem limites. As canções são etéreas e melancólicas, revelam imenso cuidado tanto a nível musical como lírico, mas são, no geral, pouco imediatas (excepção feita, talvez, a "What A Day"). São, isso sim, para serem escutadas com tempo, saboreadas sem expectativas. Para que o disco, tão intenso, possa ser apreciado na sua plenitude.



É o sexto disco dos escoceses, já bem longe do som aguerrido e animado de "Costello Music". Estão mais velhos, mais maduros, e isso reflete-se na sua música, mais ligeira. Confesso que não me encheu totalmente as medidas, sinto que lhe falta alguma garra, que talvez apareça nas interpretações ao vivo, uma espécie de ex-libris dos The Fratellis. Ainda assim, "Six Days In June" é uma canção pop a roçar o brilhantismo, com um falsetto irrepreensível, metais e bateria incríveis; e "Need A Little Love", com pozinhos de anos 80, é perfeita para o sing along. Contas feitas, neste disco, mostra-se um outro lado dos The Fratellis, mais calmo, mais orquestrado e melodioso, e, sem dúvida, mais harmonioso.



O terceiro disco dos britânicos apresenta-os mais luminosos. Mas também mais aguerridos e assertivos. É um disco cheio de mensagens, de intenção, de sentimentos; soa real e honesto. A voz de Hannah Reid soa melhor do que nunca. E a produção do disco exímia, permitindo que nos deliciemos com todos os detalhes e todas as texturas. Nele, encontramos vulnerabilidade, força, empatia e garra. Beats cativantes, melodias orelhudas, violinos no sítio certo para aquele efeito mais dramático. Entre paisagens sonoras tão cinematográficas quanto sonhadoras e espaçosas, a voz de Hannah, ali no centro de tudo, sempre tão maravilhosa e marcante. Nota máxima para "Lose Your Head", "Lord It's a Feeling", "Talking" e "America", mas tudo, no seu todo, vale bem a pena.



Produzido por Thomas Bartlett e Annie Clark (St. Vincent), Julia Stone oferece-nos um disco assumidamente pop, animado, divertido, dançável e airoso. É música leve e descomprometida, que nos faz sentir bem. A voz de Julia, tão suave quanto angelical, convida-nos a descontrair, e as melodias são tão soalheiras, que se tornam perfeitas para fins de tarde de Verão, amenos e despreocupados. De todas, teimam em ficar comigo "We All Have", um dueto comovente com Matt Berninger, "Dance", "Free" e "Fire In Me".



Ao terceiro disco, o rock funde-se com tonalidades mais dançáveis, resultando em canções com groove e riffs estridentes, piscando o olho aos festivais e à festa. Entre as que mais espelham tudo isto, estão "Trouble's Coming", "Typhoons" e "Boilermaker". Confesso que não vai ficar para a minha história do ano, mas, se há discos que podem animar o povo no pós-pandemia e ajudar a descarregar energias e tensão acumulada, este é um deles.



O disco de estreia saiu finalmente. E é incrível. Luminoso, optimista, com tanto de Soul como de Funk, de beats do Hip Hop como de texturas mais electrónicas. A voz quente de Victor é o que me prende do início ao fim, tem em si tanta vida, esperança e melancolia, e sobretudo emoção. As músicas têm muito groove e dão vontade de dançar, as letras têm o seu quê de intimistas e relacionáveis, fala-se de prazer, de amor, de sinceridade, de luto, e também de liberdade. "Traffic Lights" continua a ser, de longe, a minha preferida. Mas a pungente "Fight For Love", a soalheira e nostálgica "Comet" (num misto de Jazz e Folk), e "Drop The Ego", pura emoção à flor da pele, são temas fortes num disco cheio de coisas boas. Mágico e sofisticado, é um disco de emoções, mas que no fim, nos deixa com a sensação que tudo vai ficar bem.



Não é um disco, mas sim um EP, uma espécie de interlúdio entre o primeiro álbum e segundo, que deverá sair em 2022. O R&B não é muito a minha cena, mas gosto muito da voz de Jorja. E aqui, mantém aquela suavidade que tanto me encanta. O EP tem 8 canções que parecem existir para nos trazer conforto e calor. Muito por culpa da voz incrível de Jorja, pois claro, que se expõe e se desafia em cada tema. Nota máxima para "Addicted" e "Weekend", que continuam a rodar incessantemente.


É o primeiro disco sem o baixista Bruno Simões. Talvez por isso, me soe reluzente e festivo, uma forma de exorcismo ou de concentração no lado luminoso da vida. Em todas as canções, sente-se uma energia positiva. Na voz de Afonso, encontramos amor, salvação, emoção, garra, nostalgia e esperança. E, nas notas de música, liberdade e harmonia. As melodias são, como não podia deixar de ser, bem construídas, repletas de momentos orelhudos. A folk e as guitarras de trabalhos anteriores dão lugar às teclas, aos sintetizadores, à inspiração new wave. O som fica mais leve, mais fresco, mais animado. "Every Time", "Hide", "Love Life" e "Looking For Me" são, para mim, canções maiores num disco que entra para a lista de escutas obrigatórias sempre que quisermos celebrar a vida.



Disco de estreia a solo de Mustafa Ahmed, o poeta urbano de Toronto, destacado aqui aquando da sua colaboração com James Blake em "Come Back". Sampha e Jamie XX também fazem parte da lista de colaboradores, o primeiro emprestando a voz e o piano à emotiva "Capo", o segundo, os seus talentos na produção. "Emotivo" é provavelmente a palavra que melhor caracteriza este disco, que se faz valer pelas avassaladoras interpretações de Mustafa, tão contidas quanto pulsantes, vulneráveis e ternas. O seu timbre grave e quente tem uma suavidade incrível e ilumina qualquer ambiente, por entre orquestração e produção minimais, ali entre o R&B e a Folk. As letras são deveras pessoais e a honestidade é tremenda. A poesia das palavras e as melodias delicadas criam paisagens suaves que ajudam a interiorizar a temática mais sombria (da violência à morte, o luto e a dor). É, sem dúvida, um disco dilacerante e desarmante, e Mustafa, um nome para manter «debaixo d'ouvido».



Tenho sentimentos contraditórios em relação ao terceiro disco dos britânicos. É certo que o disco é uma amálgama de influências e de estilos musicais, tem energia e emoção em partes iguais, e canções melodicamente interessantes, algumas complexas e surpreendentes; que é liricamente forte, e que a performance de Ellie Rowsell é, no geral, irrepreensível. Mas nem tudo colou. Quando lhes dá para o som mais agressivo ou para algo mais calmo, fico sempre com a sensação que não lhes assenta bem. No entanto, quando se aproximam do Shoegaze e da Dream Pop, brincando com as texturas e as distorções, com o etéreo, o espaçoso e o denso, tudo faz sentido - "The Beach", "Delicious Things, "Lipstick On The Glass" e "No Hard Feelings" são exemplos disso mesmo. Talvez, ao vivo, a coisa resulte melhor, mas, em disco, é só mais ou menos.


[continua...]

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