"Devil" e outras canções, a estreia dos ecléticos e carismáticos Moon Walker

 

O destaque desta noite de domingo vai para os norte-americanos Moon Walker, o projeto de Harry Springer (voz e guitarra) e Sean McCarthy (bateria), que, influenciados por Talking Heads, Jack White e Led Zeppelin por exemplo, criaram uma paisagem sonora explosiva e aguerrida, que os distingue de demais projectos.

Chegaram-me aos ouvidos com outros temas, mas foi "Devil" o que (mais) me entusiasmou. Salta logo «à vista» a voz carismática de Harry Springer, bem como a energia e a pujança do ambiente sonoro. O som é pesado mas orelhudo, a linha de baixo é deveras sedutora, e a produção, que equilibra o vintage com o moderno, tem tanto de sofisticado como de orgânico.


Esse registo e esse cuidado são transversais a todas as canções de "Truth To Power", o disco de estreia, lançado no final de Setembro. E tornam tudo mais dinâmico, mais expansivo, mais vivo.

"Tear Down The Wall", o single de estreia, é uma canção eletrizante, um boost de adrenalina perfeito para acordar a vizinhança. Com a sua linha de bateria implacável e riffs explosivos, apresenta-nos um som arrojado e urgente, a roçar o blues rock, sem pretensões mas com muita química.

"The TV Made Me Do It", por seu lado, traz o funk e o rock clássico dos anos 70 para o mapa, com uma linha de baixo densa e marcada e uma guitarra estridente, elementos que se vão revelando característicos do som dos Moon Walker. "Light Burns Out" mantém a aura «retro», destacando-se a interpretação exímia de Harry, melodiosa no início, mais livre no fim, acompanhada de um instrumental à medida, tão emotivo quanto onírico.

Pelo meio, de "New Commandments", sai um solo de guitarra absolutamente transcendente, "Disturbed Suburbia" alia arranjos vibrantes a um groove inegável; e, a fechar, a pulsante "This Dark Town", que guarda em si a luz ao fundo do túnel.

"Truth To Power" é um disco muito carregado politicamente (*) - e, por isso, sarcástico e aguerrido - com paisagens sonoras refinadas, tão frenéticas quanto descontraídas, performances teatrais e intensas e instrumentais vibrantes. Nele, sente-se a química, o entusiasmo e, sobretudo, a autenticidade dos Moon Walker. E, considerando esta amostra tão apurada e tão dinâmica, estes rapazes de Los Angeles são para manter debaixo de ouvido.

(*) As canções seguem uma narrativa baseada nas frustrações políticas do duo e na sua visão atual dos EUA, com letras ousadas e cáusticas, que exploram questões como a desigualdade económica, o sensacionalismo dos media, ou a responsabilidade social

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