Acabou-se o que era doce, ou como o Primavera Sound no Porto deixa sempre qualquer coisa dentro de quem lá esteve

 


Acabou-se. E assim foi mais um ano de Primavera Sound (e, a ver pelo total descontentamento geral da nação com todo o desconforto e o mau relacionamento entre público e organização, poderá ser o meu último (dizemos sempre o mesmo e, no fim, voltamos ao início e regressamos ao parque).


Eu só fui lá ver os Pulp. Até porque, como só tinha comprado bilhete para os ir ver, e aos Justice, seria no mínimo esquisito não ter ido. E iria mesmo que o céu tivesse caído, e mesmo que estivesse trovoada. Mas não esteve, e o palco Vodafone, que tanto deu que falar, esteve lá, impecável (e muito mais cheio do que na hora do concerto dos The National...). E Jarvis Cocker (o noivo) levou-nos numa viagem cheia de memórias brilhantes, e fizemos uma festa. 

Uma festa daquelas à antiga, onde quase não havia telemóveis na mão e toda a gente bateu palmas e cantou e saltou, como só quem sabe as músicas da banda de Sheffield sabe fazer, onde Jarvis seduziu como só ele sabe e nos trouxe à flor da pele as nossas próprias memórias (não estivesse eu com amigos com quem partilhei Different Class em CD, por exemplo). 

Uma viagem sonora absolutamente brilhante e cheia de delicadezas e de sedução, com os passos de dança psicadélicos de Jarvis Cocker e com o seu tom conversador e sempre tão directo, e a acabar com Common People, que, no fundo, pelo menos ali naquela colina, é o que somos todos.

Passámos também pelo Conjunto Corona, logo de seguida, onde nos deliciámos com todo o folclore que só quem é do norte sabe o que quer dizer, onde dançámos com David Bruno e com o Homem do Robe, e, depois de um snack rápido, passámos a dizer Adeus aos The National, que, para mim, fecharam o festival. (e que, problema meu, já sei, continuam a ser a mesma coisa de sempre).

Nada mudou por aqueles lados, tirando a falta de gente, que, claramente ou se deixou vencer pelo mau tempo (que hoje não apanhámos), ou mesmo pelo mau alinhamento do cartaz que cisma em pôr bandas de palco principal em palcos secundários que não aguentam o peso do equipamento, e que acham que, depois da festa, tem que vir a depressão. Eu, como não sou dessas, vim-me embora.

Foi um Primavera que soube a pouco por isso, pela (des)organização e pelos cancelamentos dos nomes principais (se ontem foi Justice, hoje tinha sido Ethel Cain, fora o resto...), e que, na ganância de ser grande, perde qualidade de ano para ano. Não no espírito nem no espaço, mas na falta de ser bonito e de não ter problemas ou "dores de crescimento", que, a meu ver, eram desnecessárias (a não ser que queiram ser um Rock in Rio e não um Primavera Sound).

Pela primeira vez digo isto (e com pena): não sei se volto.
(Mas devo voltar).
Palavra de Chavininha. 

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