"Hollowing Out", o mundo sombrio e fascinante dos Red Telephone
Fechamos esta Quinta-feira com "Hollowing Out", o mais recente single e tema-título do disco de estreia dos britânicos Red Telephone, sobre quem já falei aqui algumas vezes. A canção e, em boa verdade, todo o disco, oferecem-nos um som sombrio, mágico, atmosférico também, que parece guiar-nos até uma dimensão alternativa.
Cinematográfico q.b., eximiamente produzido e eclético o suficiente para revelar influências que vão do rock psicadélico dos anos 70 ao art rock ou da new wave ao pós-punk, "Hollowing Out" é um disco envolto num ambiente distópico e apocalíptico que nos transporta para um imaginário misterioso e desconcertante.
É sabido que o trabalho dos Red Telephone me conquistou ao primeiro single. Disse e repito, há qualquer coisa de sedutor na forma como constroem as suas histórias, as suas melodias, as suas interpretações. Assumo que a voz de Declan Andrews não encaixou logo nos meus ouvidos; mas é, sem sombra de dúvida, o elemento que mais contribui para o ambiente inquietante das suas canções.
Nela, encontro densidade, intenção, angústia, esperança. A forma como se expressa tem o seu quê de teatral mas tem também vida. É dramático mas é também satírico. E é sobretudo magnética e distinta. Encaixa, com total confiança e segurança, nas paisagens sonoras enevoadas e iminentes, por entre texturas que têm tanto de harmonia como de dissonância.
Em "Hollowing Out", que abre o disco, sente-se isso na pele. Acordes menores, mudanças de ritmo, tons estridentes lado a lado com outros mais encorpados, sintetizadores marcados, e, claro, um falsete arrepiante evocam um ambiente em constante transformação, deixando-nos sempre de ouvido bem atento.
"Happy Man", "We All Look So Nice", "Orange Lights", "I'm Broken" já passaram por aqui e continuam a rodar incessantemente cá em casa. "Wanna Sleep Tonight", "Wake Me", "Normal Life", "The Machine That Changes Itself" e "Waiting For Your Good Days" compõem o leque de canções irrepreensíveis deste disco, umas mais assustadoras, outras mais luminosas.
Baixos encorpados, sintetizadores reluzentes, guitarras cirúrgicas entrelaçam-se, desafiam-se e equilibram-se canção atrás de canção, revelando a coerência no caminho do disco e o cuidado na composição. E se a isto juntarmos as harmonias vocais hipnotizantes, pulsantes e carregadas, o resultado só poderia ser algo único e absolutamente fascinante.
"Hollowing Out", o disco, traz consigo um som diferente e muito apelativo, desassossegado e caótico, mas também reconfortante. Há escuridão e há luz, há melancolia e há urgência. Como se um elemento não pudesse existir sem o outro, como se não pudesse haver harmonia sem caos (e vice-versa). É um trabalho cativante e é para ouvir sem medos de se deixar levar para o mundo das sombras.
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