"If one thing were different, nothing would be the same", a arte em forma de música por Luke De-Sciscio
O segundo destaque do dia vai para o cantautor Luke De-Sciscio, sobre quem já falei aqui. Estava previsto escrever apenas sobre um dos seus novos singles, "Heron's Nest", mas, entretanto, o novo disco saiu e foi preciso mudar o foco. "If one thing were different, nothing would be the same", lançado recentemente, oferece-nos um olhar sobre o mundo mágico e emocionalmente intenso de Luke, ao longo de 10 canções - onde se incluem "The Blankets of Ether" e "To Love (A Love That Gets Away)" que destaquei há uns tempos - tão espirituais quanto terrenas.
É provavelmente um dos trabalhos mais ecléticos e completos do músico e é absolutamente arrebatador. Mas não é, de todo, imediato. É um disco para ser apreciado com tempo, com atenção, com disposição. É honesto, sentido, terno e dilacerante em partes iguais. É turbulento e é calmo, sombrio e esperançoso, vulnerável e destemido.
Sem sombra de dúvida, o que (mais) marca este trabalho, é a voz distinta de Luke. Um timbre que se entranha e que nos chega sempre com a emoção à flor da pele. Muitas vezes trémulo, denunciando a espontaneidade e a genuinidade, sempre desarmante e envolvente.
"I'll Die A Little", "To Love", "Heron's Nest", "I Had A Boat", "The Blankets Of Ether" e "The Tourist" são maravilhosos exemplos da versatilidade e da elasticidade do seu timbre. São também as minhas canções preferidas de um disco sem artifícios.
Se a primeira traz consigo simplicidade e intimidade, "Heron's Nest" é comovente e genuína. O piano parece servir de amparo à voz sentida de Luke, criando um ambiente despojado que nos embala e conforta a alma. "I Had A Boat", por seu lado, tem algo de onírico e de transcendente. Num crescendo subtil, as harmonias vocais vão-nos guiando canção fora, acompanhadas por uma linha de guitarra cadenciada e luminosa.
A fechar o disco, "The Tourist", sete minutos e qualquer coisa de pura magia e emoção. Começa com um piano delicado, a que se junta uma leve percussão, permitindo que a voz de Luke brilhe e rasgue o ambiente sem medo. O crescendo é subtil, a intensidade nem por isso. A interpretação é pungente, poderosa até, irradiando emoção em cada palavra; e o minuto final é deveras arrepiante, numa combinação perfeita entre voz e arranjos de cordas.
"If one thing were different, nothing would be the same" revela o talento exímio de Luke na composição de canções, bem como o seu incrível alcance vocal. É um disco bonito, profundo, cheio de alma e de autenticidade, que mexe com as emoções e com os sentidos tanto quanto acalma o espírito. E é para ouvir de coração bem aberto.
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